Sigla
faz ofensiva para atrair ex-presidente da Câmara e seu grupo político a fim de
se fortalecer como bloco e se contrapor aos planos de reeleição do presidente
em 2022
Com
a intenção de liderar a construção de uma frente de centro contra o presidente Jair Bolsonaro na
eleição presidencial de 2022, o PSDB faz uma ofensiva para filiar o
ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que traria para
a sigla seu grupo político. O assunto foi tema de um encontro, no domingo, 7,
em São Paulo, que reuniu Maia, o governador João Doria (PSDB) e o
vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), na residência do tucano em um bairro
nobre da capital.
Depois
da derrota do aliado Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da
Câmara, Maia bateu de frente com o comando do DEM e acusou a sigla de traição
por liberar seus deputados a se alinhar com o Palácio do Planalto. Em
entrevista ao jornal Valor
Econômico, nesta segunda-feira, 8, Maia disse que deixará a
legenda. “Estarei em um partido que será oposição ao presidente Bolsonaro”,
afirmou.
Isolado no Congresso após a vitória de Arthur Lira (Progressistas-AL) para a chefia da Câmara com apoio do Palácio do Planalto, Maia decidiu investir seu capital político nas eleições de 2022. Pelo menos quatro partidos o convidaram e ofereceram amplo espaço interno: PSDB, MDB, PSL e Cidadania.
No encontro com Doria, Maia disse que a eleição da Câmara afastou o DEM do projeto presidencial de Luciano Huck, que o partido se “esfacelou” ao optar pelo adesismo e que não tem a pretensão de disputar um cargo executivo em 2022. O ex-presidente da Câmara e o vice-governador confirmaram que pretendem deixar a legenda.
Garcia
sinalizou que vai se filiar ao PSDB para disputar o governo paulista em 2022,
quando Doria deve deixar o cargo para concorrer na eleição presidencial. Com
esse movimento ele impediria uma disputa interna entre os tucanos, já que vai
governar São Paulo por pelo menos oito meses, caso Doria deixe o cargo.
Maia,
no entanto, deixou claro que ainda não tomou uma decisão e considera a
possibilidade de aceitar o convite de outro partido, sendo o PSL o mais
consistente. O ex-presidente da Câmara disse não ter pressa em definir seu
destino, até porque um anúncio precoce enfraqueceria sua posição de
articulador.
O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou a ofensiva no Twitter. “Fez bem
o PSDB em convidar Rodrigo Maia para entrar no partido. Presidiu corretamente a
Câmara e é bom quadro político. Tomara que aceite”, escreveu FHC, presidente de
honra do PSDB.
Entre
dirigentes tucanos, a leitura é de que nenhum outro partido pode oferecer a
Maia uma ampla estrutura como o PSDB. Além disso, o deputado passaria a
comandar o partido no Rio de Janeiro e teria posição de destaque na executiva
nacional. “Maia tem uma ligação forte com vários prefeitos e lideranças. Ele
traria muitos quadros para o partido. Seu objetivo é construir uma frente”,
disse o empresário Paulo Marinho, presidente do PSDB-RJ.
Para
o deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ), Maia teria “todo o espaço político”
na sigla. “Maia tem tapete vermelho no PSDB”, disse. A eventual ida de Maia
para o PSDB, avaliam tucanos, poderia reestruturar o partido no Rio, onde não
elegeu sequer um vereador na capital em 2020. Nesse novo quadro, o prefeito do
Rio, Eduardo Paes, também poderia seguir Maia e trocar o DEM pelo PSDB.
Como
Maia não demonstrou interesse em disputar um cargo majoritário, o nome
preferido dos tucanos para o governo fluminense ou o Senado em 2022 é o do
advogado Felipe
Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Os tucanos avaliam que uma aliança entre Maia, Santa Cruz e Paes seria
determinante para enfrentar o bolsonarismo em sua base de origem.
Para
Doria, a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de
lançar o ex-prefeito Fernando Haddad como
pré-candidato do PT e a vitória dos aliados de Bolsonaro no Congresso
anteciparam o debate eleitoral de 2022, o que forçou o PSDB a se posicionar de
maneira clara e contundente.
“Maia
continua sendo uma grande referência na articulação de um amplo movimento
democrático de proteção do Brasil e dos brasileiros”, disse. “Ontem (domingo, 7), recebi a visita (de Rodrigo Maia) em minha
residência e o convidei (a se
filiar). Ele vai analisar. Essa não é uma decisão que ele vai tomar
de imediato. Ficou claro para mim que ele deixará o DEM”, afirmou Doria em
entrevista coletiva ontem no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo.
Presidente do Cidadania, partido que também convidou Maia, o ex-deputado Roberto Freire avaliou que ele terá um papel central nas eleições de 2022. “Ele se firmou como uma liderança democrática importante e uma referência de oposição.” Para deputados próximos a Maia, o Cidadania não teria musculatura para recebê-lo. Procurada, a assessoria de Maia afirmou que ainda não há decisão sobre seu futuro político.
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