A
operação corrompeu e degradou amplos setores do jornalismo
Quando
começou, em 2014, a Lava Jato gerou justificadas expectativas de combate à
corrupção. Revelou-se, no entanto, um projeto de poder e desmoralizou-se em
meio aos abusos e ilegalidades cometidas por Moro, Dallagnol e a força-tarefa.
Além de
afrontar o ordenamento jurídico e ajudar a corroer a democracia, a Lava Jato
também corrompeu e degradou amplos setores do jornalismo; em alguns casos, com
a ajuda dos próprios jornalistas, como a Vaza Jato já havia mostrado e agora é
confirmado nas conversas liberadas pelo ministro do STF, Ricardo Lewandowski.
Relações promíscuas entre imprensa e poder não são novidade. No caso da operação, contudo, as conversas mostram que repórteres na linha de frente da apuração engajaram-se no esquema lava-jatista e atuaram como porta-vozes da força-tarefa, acumpliciados com o espetáculo policialesco-midiático.
Jay
Rosen, professor de jornalismo da Universidade de Nova York, cunhou o termo
"jornalismo de acesso" para definir como jornalistas sacrificam sua
independência e abandonam o senso crítico em troca do acesso a fontes, que
passam a ser tratadas com simpatia e benevolência. A Lava Jato é um caso
extremo de "jornalismo de acesso", no qual repórteres aceitaram
muitas convicções sem as provas correspondentes.
Colaboraram
com o mecanismo de delações e vazamentos seletivos, renunciaram à obrigação
ética de fazer suas próprias investigações e fecharam os olhos para os métodos
da força-tarefa. Nas empresas, tiveram retaguarda. O jornalismo corporativo
participou abertamente do projeto lava-jatista.
Em março
de 2016, por exemplo, Moro vazou o conteúdo do grampo que captou ilegalmente
conversas entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. O
grampo, que sabidamente atendia a interesses político-partidários, foi
reproduzido por muitos veículos sem a necessária crítica quanto a isso.
A relação pervertida entre poder e imprensa fere a dignidade da profissão. É uma praga a ser sempre evitada e combatida.
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