- Folha
de S. Paulo
Novo comando do Congresso quer criar novo benefício mesmo sem corte de outra despesa
Se
quiser evitar uma crise precoce com o novo
comando do Congresso, o governo de Jair Bolsonaro vai ter de engolir a
criação de um novo
auxílio emergencial sem contrapartida de corte de outras despesas, ao
menos de imediato.
A oferta de contrapartida do centrão, por ora, é aprovar “reformas” sem custo
político, tal como a autonomia do Banco Central, que já foi para o forno, e
outras medidas regulatórias setoriais (por exemplo, a lei do gás, do petróleo,
talvez do setor elétrico).
Se o comando novo do Congresso azeitar a relação com suas bases, se o governo
não confrontar o centrão e a popularidade Bolsonaro não for para o vinagre, é
possível aprovar também uma reforma administrativa para as calendas e algum
remendo mais duradouro, mas procrastinado, de aperto fiscal.
É esse o programa para 2021.Líderes partidários próximos de Artur Lira (PP-AL),
presidente da Câmara, e de Rogério Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado,
dizem que o projeto do novo auxílio será pautado, ponto, e apenas vai cair se
houver grande resistência no chão do Congresso, o que é bem improvável.
As dúvidas maiores entre os parlamentares:
1) saber qual instrumento utilizar para aumentar a despesa sem estourar o teto
de gastos na letra da lei (se por crédito extraordinário, emenda constitucional
de “calamidade” ou variante de “orçamento de guerra” etc.);
2) definir o critério de acesso ao benefício;
Há parlamentar com voz na nova ordem para quem deve ser mais, talvez R$ 25
bilhões.A aprovação do projeto de auxílio não estaria vinculada à redução
imediata de qualquer outra despesa, o que não quer dizer que alguma compensação
(não necessariamente financeira) possa ser acertada para “depois”.
No fim do ano passado, a prorrogação do auxílio foi para o vinagre porque o
Ministério da Economia e o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
queriam compensação em redução de despesa ou método de aperto fiscal mais
duradouro.
Entre as opções estavam redução de salários e jornada de servidores, fim do
abono salarial e fim do reajuste obrigatório dos benefícios da Previdência e
dos gastos mínimos em saúde e educação. Foi quando Bolsonaro matou a conversa
com aquele “não posso tirar de pobres para dar para paupérrimos”.
Os novos líderes também acham inviável “colocar os penduricalhos do Guedes” no
novo auxílio, nas palavras de um deputado do centrão, tal como exigir cursos profissionais
dos novos auxiliados. Não negam que se possa aprovar algo parecido com a
“carteira verde amarela” (emprego quase sem direitos trabalhistas de Guedes),
mas também não associam tal projeto à renovação do auxílio.
Nova CPMF, a fim de evitar déficit maior? Até pode ser. Mas Bolsonaro não quer
aumento de imposto.Os novos líderes do Congresso parecem muito firmes no que
dizem, mas haverá conflito, que dependerá da resistência de Guedes e do tamanho
do salseiro que possa ocorrer na praça financeira.Talvez não seja
grande coisa, se não exagerarem no tamanho do auxílio. Muito bancão já dava de
barato desde o ano passado que viria um “fura-teto” de algo entre R$ 20 bilhões
e R$ 30 bilhões em 2021, por causa da persistência da epidemia.
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