- O Globo
Jair Bolsonaro seduziu as Forças Armadas
com três moedas: prestígio, poder e dinheiro. Em troca, exigiu uma só: a
submissão completa ao seu projeto político.
O capitão subiu a rampa com sete ministros
militares. O loteamento se espalhou pelos escalões inferiores da máquina
pública. Mais de seis mil fardados se penduraram em cargos civis.
Quem não ganhou emprego embolsou vantagens
no contracheque. Os integrantes das Forças foram poupados da reforma da
Previdência. Além de manter privilégios, arrancaram novos penduricalhos.
No mês passado, uma canetada autorizou
militares da reserva a furar o teto constitucional. Alguns generais passarão a
receber supersalários acima dos R$ 60 mil por mês.
O presidente nunca escondeu a regra do
jogo: para manter as benesses, é preciso se curvar a ele e a seus filhos. No
início do governo, o general Santos Cruz tentou contrariar interesses do
vereador Carlos Bolsonaro. Puxou a fila dos demitidos antes de completar seis
meses no cargo.
Outros oficiais toparam se humilhar para continuar no poder. Foi o caso do general Luiz Eduardo Ramos, chamado de “Maria Fofoca” e “Banana de Pijama” por um colega de gabinete. Ele engoliu os desaforos e foi promovido a chefe da Casa Civil.
Quando o governo começou a dar sinais de
derretimento, o capitão elevou o tom das cobranças. Passou a exigir
demonstrações públicas de apoio e ameaçou usar tanques contra prefeitos e
governadores.
No fim de março, ele criou uma crise
militar e derrubou o general Fernando Azevedo do Ministério da Defesa. Agora
esvazia o novo comandante do Exército, que assumiu há pouco mais de dois meses.
Bolsonaro montou uma armadilha para o
general Paulo Sérgio Nogueira. Levou o ex-ministro Eduardo Pazuello, que é
oficial da ativa, para um comício em seu favor. O comandante ficou emparedado:
ou punia o subordinado, arriscando-se a ser demitido, ou fechava os olhos para
a indisciplina, abrindo as portas para a anarquia militar.
O general aceitou ficar de joelhos para o
capitão. Perdeu a autoridade e ainda pode vir a perder o cargo. Basta que ele
contrarie a próxima vontade do chefe.
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