O Globo
Bem ou mal, o Afeganistão está conectado à
internet, e controlar o fluxo de informações é mais difícil. Isso significa que
resistir é possível
O presidente Joe Biden, seus assessores e o
mundo em geral ficaram perplexos no domingo, quando o Talibã entrou em Cabul
sem pedir licença. Vinte anos de presença americana, 6,5 mil vidas aliadas,
mais cerca de 66 mil militares e policiais locais mortos, para não falar nos
110 mil civis feridos ou assassinados — e tudo voltou ao que era em uma semana.
Dois trilhões de dólares evaporaram como uma poça d’água numa tempestade de
areia.
(A revista Forbes fez as contas: US$ 300
milhões por dia, todos os dias, durante 20 anos.)
Mais de 250 mil afegãos já tiveram que
abandonar as suas casas. Assistimos a cenas de caos indescritível no aeroporto
de Cabul, como um remake macabro da retirada de Saigon.
O presidente Joe Biden, seus assessores e o
mundo em geral seriam poupados da perplexidade se acompanhassem a CPI da Covid,
que dia a dia nos mostra como funcionam os intestinos podres de um governo com
a carta branca de uma emergência em mãos: desinformação geral, coronéis pedindo
propina a atravessadores, generais especialistas em logística despachando
insumos para cidades erradas, burrice e má-fé disfarçadas com pose e
arrogância.
Ah, mas são outras circunstâncias, o Brasil é o Brasil.
Sim, são. E é. Mas os Estados Unidos não
são muito diferentes, apenas têm mais dinheiro e tanques que não soltam fumaça.
É uma ilusão achar que os burocratas ou comandos militares das grandes
potências são mais inteligentes ou mais honestos do que os similares nacionais,
ainda por cima quando estão a 12 mil quilômetros de casa.
O presidente Joe Biden fez bem em ordenar a
retirada das suas tropas de um país onde, para começo de conversa, elas nem
tinham que estar; mas errou calamitosamente ao não levar a sério os avisos
seguidos feitos pela sociedade civil e acreditar nas informações das forças de
ocupação.
O que aconteceu no Afeganistão foi um
fracasso sem precedentes, uma vergonha planetária para esse negócio chamado
“Forças Armadas”.
O cenário em Cabul é apenas o resultado
mais atual e assombroso do trabalho de um monte de pazuellos que falam inglês.
Nas suas primeiras entrevistas, os líderes
do Talibã afirmam que o movimento mudou. É muita ingenuidade acreditar nos
líderes do Talibã. Mas, independentemente de qualquer coisa, o fato é que
algumas coisas mudaram de 20 anos para cá no Afeganistão, a primeira delas
sendo a chegada da internet em 2002.
A rede ainda precisa crescer muito no país,
mas já está presente nas suas 34 províncias e é usada sobretudo nos grandes
centros urbanos. No começo deste ano, o Facebook tinha quase 4,5 milhões de
usuários; há muitos mais no Twitter e, sobretudo, numa rede social local que
funciona através de SMS. Quase 70% dos habitantes têm celular.
O Talibã pode censurar plataformas e
suspender serviços, mas não pode derrubar a internet porque precisa dela também
— assim como os bancos e as agências governamentais.
Bem ou mal, o Afeganistão está conectado, e
controlar o fluxo de informações ficou mais difícil. Isso significa que
resistir é possível.
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Nas suas primeiras entrevistas, os líderes
do Talibã afirmam que o movimento mudou. É muita ingenuidade acreditar nos
líderes do Talibã. Mas, independentemente de qualquer coisa, o fato é que
algumas coisas mudaram de 20 anos para cá no Afeganistão, a primeira delas
sendo a chegada da internet em 2002.
A rede ainda precisa crescer muito no país, mas já está presente nas suas 34
províncias e é usada sobretudo nos grandes centros urbanos. No começo deste
ano, o Facebook tinha quase 4,5 milhões de usuários; há muitos mais no Twitter
e, sobretudo, numa rede social local que funciona através de SMS. Quase 70% dos
habitantes têm celular.
O Talibã pode censurar plataformas e suspender serviços, mas não pode derrubar
a internet porque precisa dela também — assim como os bancos e as agências
governamentais.
Bem ou mal, o Afeganistão está conectado, e controlar o fluxo de informações
ficou mais difícil. Isso significa que resistir é possível.
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