Valor Econômico
Presidente volta a sugerir ação política de
Forças Armadas
BRASÍLIA - Preocupado com o assédio de
outros candidatos à Presidência da República a líderes evangélicos, o
presidente Jair Bolsonaro recebeu dezenas de representantes do segmento, ontem,
em um café da tarde no Palácio da Alvorada. Em clima de campanha eleitoral,
pediu apoio contra o que chama de “ameaça socialista” no país e, se dirigindo
aos religiosos, prometeu dirigir o país “para o lado que os senhores
desejarem”.
Sob aplausos de pastores que antes anunciaram alinhamento a seu governo, Bolsonaro também exaltou seu compromisso em colocar um evangélico no Supremo Tribunal Federal (STF), já materializado com a indicação de André Mendonça, e voltou a dizer que vê autoridades no país atuando “fora das quatro linhas da Constituição” - discurso que já utilizou diversas vezes para atacar ministros da Corte.
“Quando falo das Forças Armadas, e elas são
nossas, elas são o último obstáculo para o socialismo. As Forças Armadas têm um
compromisso, um juramento, o dever de respeitar a nossa Constituição. Nós
jogamos dentro das quatro linhas, mas devemos fazer também que quem jogue fora,
entre dentro das quatro linhas. É a força da lei. Não a lei da força”,
discursou.
A indicação de um evangélico para o Supremo
foi motivo de tensão entre Bolsonaro e líderes evangélicos no ano passado. O
pastor Silas Malafaia, que chegou a publicar vídeos com críticas veementes ao
governo, dobrou-se em elogios ontem a Bolsonaro e foi responsável por
arregimentar parte dos convidados. Aplaudido com entusiasmo pelos presentes,
fez um discurso inflamado com críticas ao PT e convocou os religiosos a
ampliarem seu envolvimento na política.
Dando sequência ao tom adotado por
Malafaia, Bolsonaro clamou aos pastores que se empenhem na “missão” de evitar
que uma “gangue” retorne ao Poder.
“Eu dirijo a nação para o lado que os
senhores assim o desejarem. É fácil? Não é, mas nós sabemos e temos força para
buscar fazer o melhor para a nossa Pátria”, reforçou Bolsonaro. “Não vai ser
uma canetada que vai me tirar daqui. Quem me tira daqui é somente Deus. Não
existe um ato meu, um discurso, uma ação, uma MP fora das quatro linhas [da
Constituição]. Será que é tão difícil fazer algumas pessoas entenderem que essa
é a maneira civilizada de nós convivermos aqui no Brasil?”.
Antes de discursar, Bolsonaro chorou ao
ouvir o relato de apóstolo César Augusto, religioso que o visitou no hospital
em 2018, após o então candidato ser vítima de uma facada.
Quatro anos depois, o presidente utilizou o
episódio como uma prova de que teria sido escolhido por Deus para o cargo e
voltou a dizer que é a melhor opção para o próximo mandato.
“Nós vamos vencer esse obstáculo. Existe
gente melhor do que eu? Milhares de pessoas melhores do que eu. Mas é a
oportunidade do momento, o nome que está aí é o meu”, complementou.
O café no Palácio do Alvorada reuniu mais de 80 parlamentares da bancada evangélica. O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, estava presente, apesar da turbulência na composição da aliança para as eleições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário