domingo, 9 de outubro de 2022

Cristovam Buarque* - Equipe para os fundamentos

Blog do Noblat / Metrópoles

No mundo de hoje, não há nome icônico para a economia. Nem Keynes, nem Marx, nem Friedman, como antes

Todos sabem da incompetência e da irresponsabilidade do atual presidente. Por isto, as lideranças econômicas sérias, do Brasil e do mundo, temem fortemente reeleição de Bolsonaro. Esta é uma das razões pelas quais grandes nomes da economia brasileira, os melhores, mais brilhantes e mais testados de nossos economistas têm se manifestado em apoio ao Lula no segundo turno. O apoio se dá pelo horror ao Bolsonaro, mas ainda com certas desconfianças em relação ao Lula e ao PT. Apesar do comportamento exemplar entre 2003 e 2008, ainda está presente a resistência ao Plano Real, a manipulação de preços da Petrobras, o desdém por âncoras fiscais.

Por isto, o mundo econômico, desejoso de se afastar de Bolsonaro, mas ainda assustado com a visão econômica do PT no passado, pede que Lula indique desde já o nome de seu ministro da economia. Seria erro político, eleitoral e técnico.

No mundo de hoje, não há nome icônico para a economia. Nem Keynes, nem Marx, nem Friedman, como antes. O nome depende de ganhar a eleição, avaliar corretamente o momento, no Brasil e no exterior, e selecionar quem traga confiança e competência. Nesta ordem, porque a competência depende da equipe, e a confiança depende de quem fala na mídia.

Para cuidar do receio, Lula poderia dizer com clareza que já passou o tempo da economia ideologizada. Não há mais política econômica de esquerda ou de direita, ela é certa ou errada para fazer crescer com estabilidade de preços para gerar os recursos fiscais e empregos produtivos, e usar estes recursos conforme as propostas sociais do governo. A política econômica diz qual a maneira certa tecnicamente, a política social diz qual a maneira justa socialmente.

Mas é ilusão e arrogância saber qual a política econômica certa, nestes tempos de terremotos geopolítico, tecnológico, ecológico e político. A principal qualidade de um economista contemporâneo deve ser a modéstia. (Pessoalmente, sou defensor do teto de gastos como parte necessária de uma âncora fiscal, mas tenho dúvida).

No lugar de indicar um nome, Lula deveria dizer que os fundamentos da economia serão definidos tecnicamente, não por uma pessoa, ainda menos por “Outro Posto Ipiranga Presunçoso”, mas por uma pequena equipe onde estivessem profissionais vindos/as de escolas diferentes, unidos/as na busca de crescimento com estabilidade e suatentatbilidade. Além de dizer que sua economia será técnica, sem ideologia, como foi sua política econômica no primeiro governo, Lula pediria aos atuais economistas que o apoiam, e até a alguns que não o apoiam, que indiquem nomes para compor sua equipe de coordenação dos assuntos da economia. Entre esses membros, o novo presidente escolheria o ministro que a comandaria. A ela não caberia a gestão da economia, porque a dinâmica do mundo moderno exige agilidade, mas caberia definir os fundamentos sólidos e duráveis para a condução do dia a dia com eficiência nos resultados de crescimento e de emprego, com estabilidade nos preços e sustentabilidade na ecologia.

Lula tem insistido que o país precisa passar confiança. Precisa dizer também que não aceita economista sem modéstia quanto ao seu conhecimento diante das teorias dos outros. É hora dele conquistar confiança, demonstrando reconhecer que a justiça social não caminha sobre economia ineficiente, com recessão, desemprego e inflação; e que no mundo de hoje não há super economista. A confiança não vem do economista, vem do estadista, como tivemos entre 1992 e 2010.

*Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

Um comentário:

Anônimo disse...

"Todos sabem da incompetência e da irresponsabilidade do atual presidente... Grandes nomes da economia brasileira, os melhores, mais brilhantes e mais testados de nossos economistas têm se manifestado em apoio ao Lula no segundo turno. O apoio se dá pelo horror ao Bolsonaro"!
Isto ocorre na economia, mas vale também para o MEIO AMBIENTE, a SAÚDE, a EDUCAÇÃO, a CULTURA, a POLÍTICA EXTERNA, a CIÊNCIA.