O Globo
Em caso de derrota, eles alegarão que
perderam no tapetão
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
tomou uma série de medidas para tentar controlar a difusão de desinformação no
segundo turno. O bolsonarismo reagiu acusando-o de parcialidade e ampliando os
ataques à Justiça Eleitoral — usando até mais desinformação.
A Corte tomou três medidas na última semana para punir a onda de desinformação. A primeira, atendendo a um pedido da coligação de Lula, foi suspender a monetização de quatro grandes canais bolsonaristas no YouTube —Foco do Brasil, Folha Política, Brasil Paralelo e Dr. News — e impedir que as empresas que os administram impulsionem conteúdos sobre Lula ou Bolsonaro nas mídias sociais. A Brasil Paralelo sozinha gastou mais de R$ 700 mil em impulsionamento de conteúdos políticos apenas em outubro. Além disso, o TSE determinou o adiamento para depois da eleição do lançamento de um documentário da Brasil Paralelo sobre a facada em Bolsonaro.
As empresas que administram os canais
impulsionavam propaganda pró-Bolsonaro ilegalmente, em muitos casos
desinformativa, caracterizando abuso de poder econômico. Recebiam a monetização
dos seus canais de YouTube e, com esses e outros recursos, pagavam para
conteúdos de campanha — alguns deles falsos — ser mais distribuídos nas mídias
sociais. Uma análise da disseminação desses conteúdos mostrou que havia
orquestração no lançamento simultâneo de certos argumentos, difundidos com
impulsionamento ilegal, depois adotados pela militância.
O TSE também deu direito de resposta a Lula
pelo fato de a emissora Jovem Pan veicular seguidas declarações distorcidas e
inverídicas contra ele — a maioria delas dizendo que era corrupto, o que é
tecnicamente falso, porque as condenações de Lula foram anuladas. Por ser uma
concessão, a Jovem Pan deveria seguir as regras eleitorais de equilíbrio na
cobertura jornalística, mas o canal não disfarça o apoio a Bolsonaro.
A Jovem Pan tratou a decisão do TSE como
“censura” e passou a noticiá-la reiteradamente repetindo os argumentos vetados
dentro da reportagem. Uma lista elaborada pelo departamento jurídico da
emissora com palavras a ser evitadas pelos apresentadores e comentaristas
começou a circular em grupos de WhatsApp como se fossem palavras censuradas
pelo TSE. O programa “Pânico” chegou a fazer uma encenação com um homem de
terno no estúdio, dando a entender que era um censor do TSE.
A terceira medida do tribunal foi o
julgamento de diversos pedidos de direito de resposta em inserções de TV,
mudando a distribuição das propagandas gratuitas nos dias finais de campanha. O
TSE deu direito de resposta a inserções que chamavam Lula de ladrão e corrupto
e também a inserções que associavam Bolsonaro a canibalismo. Com os direitos de
resposta concedidos, as inserções restantes ficam bastante desequilibradas.
Originalmente, cada candidato teria o mesmo número de inserções no rádio e na
TV. Com a decisão, Lula teria 170 a mais na TV. Bolsonaro recorreu, e o
colegiado da Corte deverá tomar uma decisão definitiva hoje.
Os bolsonaristas reagiram ao endurecimento
do TSE alegando parcialidade do tribunal e respondendo com uma incrível
avalanche de mentiras.
O pastor André Valadão, da Igreja Batista
da Lagoinha, que apoia Bolsonaro, gravou um vídeo que registrou mais de 5
milhões de visualizações dizendo que fora obrigado pelo TSE a se retratar de
declarações contra Lula. Só que a decisão não existe — o tribunal nunca obrigou
o pastor a se retratar.
Reportagem da agência de verificação Aos
Fatos identificou uma ação coordenada dos bolsonaristas para difundir no
Twitter o texto “comentário removido pelo Tribunal Superior Eleitoral”, para
dar a entender que o TSE tinha determinado a exclusão de conteúdos, quando não
havia nenhuma determinação do tipo. Os bolsonaristas estão inventando fatos
para dar a impressão de que são censurados em toda parte pelo TSE.
A estratégia é muito preocupante porque os
bolsonaristas dobram a aposta quando suas mentiras são punidas pelo TSE. Quando
são condenados por mentir contra Lula, respondem mentindo contra a própria
Justiça Eleitoral. Além da insubordinação à Justiça, essa estratégia mostra que
os reveses no TSE serão usados para mobilizar a militância e ganhar votos,
fazendo, da punição, recompensa. Se Bolsonaro perder, ela sugere também que,
além de fraude nas urnas, os bolsonaristas alegarão que perderam no tapetão,
com a Justiça Eleitoral favorecendo o candidato do PT.
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