O Estado de S. Paulo.
A eleição acabou, o novo governo nem começou e a República continua ameaçada por fanáticos
A capital da República está isolada, com
bloqueio das pistas de acesso à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três
Poderes, onde ficam o Planalto, o Supremo e o Congresso. E não é por causa do
feriado da Proclamação da República, mas para evitar ataques justamente à
República com caminhões e motociatas antidemocráticas. A eleição acabou, o novo
governo nem começou e os bolsonaristas não sossegam.
Saber perder ou ganhar é para quem tem grandeza política e de alma, mas o Brasil assiste a um triste espetáculo em que grupos de fanáticos, surpreendentemente grandes, se enrolam na bandeira, usam o hino e os símbolos nacionais para baderna, insulto, ataques às instituições e à democracia. E para cenas de um ridículo inacreditável.
Ministros da mais alta Corte de Justiça do
País são constrangidos e ameaçados com gritos e impropérios por irresponsáveis
e inconsequentes que defendem volta dos militares e ditadura, ou seja, fim da
liberdade, torturas, mortes e desaparecimentos. Luís Roberto Barroso teve de
sair às pressas de um restaurante em Santa Catarina e seus colegas de toga
estão sendo importunados por brasileiros em Nova York.
Isso não é liberdade de expressão e de
manifestação. A Constituição, as leis e até os bons costumes permitem que
cidadãos e cidadãs se unam para ir às ruas protestar, defender suas
causas, exigir seus direitos e cobrar
deveres de governantes. Mas pedir o fechamento do STF e a volta da ditadura
militar em torno de quartéis? Financiar caminhoneiros para parar o País, causar
desabastecimento, inflação e caos? Não é democrático, não é constitucional, não
é legal.
Falta uma voz firme de comando e essa voz
deveria ser do ainda presidente da República, Jair Bolsonaro, que se
encastelou, parou definitivamente de trabalhar e parece estar torcendo para o
circo pegar fogo. Danem-se a Pátria e a família? Deus está de olho.
De outro lado, é também preciso que os
vitoriosos ajam como vitoriosos e parem de guerra pela internet, contra tudo e
todos que não atrapalham, mas se reservam o direito de crítica e não lhes dizem
amém. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez uma campanha pacífica e
um discurso de vitória pedindo união, pacificação, inclusão e esperança.
Ataque, ódio e arrogância de parte de sua base e de sua militância digital não
têm nada a ver com isso.
Mais de 60 milhões votaram em Lula e 58
milhões em Bolsonaro, e o Brasil está, objetivamente, dividido ao meio e com
problemas gigantescos. Quer e precisa de paz, crescimento, emprego, barriga
cheia, inclusão, igualdade e respeito à maioria e ao voto. A quem interessa a
guerra?l
Um comentário:
Concordo com a colunista,Lula fez uma campanha pacífica,ao menos dentro do possível,santo ninguém é.
Postar um comentário