Blog do Noblat / Metrópoles
A primeira tarefa do Ministro da Cultura
será superar a criminalização do mundo artístico que o discurso bolsonarista
promoveu
O Brasil espera os nomes dos ministros da economia, fazenda, planejamento, relações exteriores, defesa. Poucos lembram da importância do nome de quem vai cuidar dos assuntos da cultura. Entre estes poucos, a preocupação mais comum é para saber quem vai cuidar dos órgãos de promoção e financiamento das atividades artísticas. Esquecemos que vai caber a este ministério coordenar a grande luta pela recuperação da mente brasileira, comprometida nos últimos quatro anos pela visão obscurantista, preconceituosa, censora, promovida pelo ainda presidente e seus asseclas mentais e espirituais.
A primeira tarefa do Ministro da Cultura
será superar a criminalização do mundo artístico que o discurso bolsonarista
promoveu; também acabar com a censura explícita ou implícita exercida contra as
linhas de pensamento que não afinam com os credos oficiais do governo e seus
auxiliares obscurantistas; sobretudo, retomar o gosto pelo diálogo entre os que
pensam diferentemente e promover o debate livre para mergulhar na alma
brasileira, captar os sonhos de utopia que ela mantém para o futuro, no momento
de perplexidade, desencanto e frustrações.
Todos sabem que o bolsonarismo foi
responsável pela morte precoce de centenas de milhares de pessoas, vitimadas
pelo covid. Precisamos despertar para outro genocídio, sobre a mente do Brasil.
A educação de base será a vacina fundamental para superarmos este “mentecídio”
do desencanto obscurantista, mas são as artes plásticas, a literatura, o
cinema, teatro, museus, festivais que reencantarão o Brasil: promovendo o
entendimento e retomando os sonhos coletivos do povo.
Nos próximos anos, os técnicos serão
fundamentais para recuperarmos nossas finanças, evitarmos inflação, promovermos
crescimento, emprego, renda, mas serão os artistas que nos encantarão,
promovendo a beleza e os valores para um Brasil melhor e mais belo. A economia
é a base material, mas só a cultura permitirá imaginar e desejar o Brasil de
todos e para todos, formular sonhos utópicos, respeitar o papel da ciência e da
beleza, o gosto pela verdade e pela tolerância , o repúdio aos preconceitos.
A economia e as finanças são fundamentais
para caminharmos no presente, mas é a cultura que assegura sustentabilidade ao
tecido social e justifica o destino para onde caminharmos.
*Cristovam Buarque foi governador, senador e ministro
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