domingo, 11 de dezembro de 2022

Bernardo Mello Franco – Anatomia de um desastre

O Globo

Se governo Bolsonaro fosse um avião, terminaria em pane seca

Se o governo Bolsonaro fosse um avião, seu voo terminaria em pane seca, sem combustível para pousar. O sumiço do piloto, que largou o manche e abandonou os passageiros, seria apenas o epílogo do desastre.

Depois de quatro anos, o capitão deixa um cenário de terra arrasada. A máquina federal vive um colapso administrativo e financeiro. A manutenção de serviços básicos está ameaçada, e o Orçamento do próximo ano não para em pé.

O noticiário tem registrado os efeitos do apagão. Já faltou dinheiro para comprar remédios, encomendar livros didáticos, levar água potável ao semiárido. A Polícia Federal teve que suspender a emissão de passaportes. Cerca de 200 mil estudantes de pós-graduação não receberam as bolsas de dezembro.

Depois de furar cinco vezes o teto de gastos, o presidente raspou o que sobrava no cofre para tentar se reeleger. Não conseguiu e deixará o governo em estado de calamidade.

Na quarta-feira, o senador Randolfe Rodrigues pediu ao Tribunal de Contas da União que tome medidas para responsabilizar Jair Bolsonaro. Ele ressalta que o caos não é fruto de “circunstâncias imprevisíveis”, e sim da “subestimação dolosa das despesas obrigatórias, a fim de direcionar recursos para outras áreas de maior interesse do presidente”.

A representação pede que o TCU rejeite as contas do último ano de governo. Se isso ocorrer, o capitão poderá ficar inelegível. Na esfera penal, poderá ser julgado por crime contra as finanças públicas.

O cenário de descalabro aumentou os desafios da transição. Mais que um diagnóstico, será preciso fazer uma autópsia do desastre bolsonarista. O trabalho deve começar a vir a público na terça-feira, dia seguinte à diplomação de Lula.

“Se não apresentarmos agora, seis meses depois estarão nas nossas costas os desmandos do atual governo”, disse o presidente eleito. A advertência, feita durante o anúncio de novos ministros, mostra que o petista entendeu o tamanho da encrenca que o espera.

Com a bênção dos generais

Lula cumpriu a promessa de indicar um civil para o Ministério da Defesa, mas o futuro ocupante do cargo não inspira muito otimismo.

José Múcio Monteiro será nomeado com a bênção dos generais que cercam Jair Bolsonaro. Os mesmos que deram retaguarda a suas ameaças contra a democracia.

A escolha é a primeira concessão do presidente eleito às Forças Armadas, que insistem em se outorgar um poder de tutela sobre a República.

Político de direita, Múcio passou mais de uma década na Arena, legenda de sustentação da ditadura militar. Em sua última encarnação partidária, defendeu as cores do PTB. O de Roberto Jefferson, não o de Getúlio, Jango e Brizola.

Com este currículo, o novo ministro não parece a pessoa certa para despolitizar a caserna, banir as homenagens ao golpe de 1964 e barrar a indicação de militares da ativa para cargos civis.

Os generais não são os únicos fãs de Múcio em Brasília. O próprio Bolsonaro já se disse “apaixonado” pelo ex-colega de Câmara, que chefiou a Secretaria de Relações Institucionais no segundo governo Lula. Enquanto o capitão chorava a derrota, o futuro ministro foi visitá-lo no Alvorada, sem registro na agenda oficial.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

"Depois de quatro anos, o capitão deixa um cenário de terra arrasada."

Verdade. Só o gado, comprovadamente estúpido, burro mesmo, não vê o desastre q é o palerma da República.

Anônimo disse...

"José Múcio Monteiro será nomeado com a bênção dos generais que cercam Jair Bolsonaro. Os mesmos que deram retaguarda a suas ameaças contra a democracia."

Pode ser. Mas também pode não ser.

Não esqueçamos q só há um ministro no novo governo e se chama LULA. E ele sabe q os milicos NÃO são confiáveis.

Anônimo disse...

Lula.sabe q levará tempo pra reverter a fácil cooptação dos milicos.

Por que foi fácil pro genocida, um mau soldado, cooptar os milicos e é difícil pro LULA fazer o mesmo?

Boa pergunta, não?
Porque aos milicos ainda se ensina sobre comunismo (q nao ameaça o Brasil) , sobre pátria acima de tudo (e não sobre verdade acima de tudo), ou seja, ideias ultrapassadas q geram afinidades com o genocida q soube capitalizá-las a seu favor e em prejuízo militar e do país.
LULA terá q mudar esse ensino horroroso.

Fernando Carvalho disse...

Quem indica militares da ativa para cargos civis?