Folha de S. Paulo
Sob petista, mínimo se aproximou da média
salarial, mas uma nova dose vai ser difícil
O salário
mínimo deve ter
outro aumento real em maio, dizem assessores políticos de Luiz Inácio Lula da
Silva. Além do aumento real que calhou de acontecer no último ano do
governo das trevas, para R$ 1.302, o mínimo deve ir a R$ 1.320: mais R$ 18.
Paga quatro passagens de ônibus em São Paulo.
É pouco, mas é o que dá para fazer e olhe
lá, pois o reajuste aumenta as despesas do governo —mais sobre isso mais
adiante.
Em si mesmo, o valor do mínimo é mínimo, até porque o país é meio pobre e empobrece faz uma década. Em 1979, um menino perguntou ao último ditador-general, João Baptista Figueiredo, o que faria caso fosse criança e o pai dele vivesse com um salário mínimo. "Daria um tiro no coco [na cabeça]", disse o tosco.
O salário mínimo teve reajustes reais,
acima da inflação, em particular nos anos Lula (e quase nada além da correção
monetária depois de 2016). A distância entre o salário mínimo e o salário médio
diminuiu.
No início de Lula 1, em 2003, o mínimo
equivalia a cerca de 38% do salário médio. No último ano de Lula 2, 2010, a
45%. De 2012 até 2016, o valor do mínimo ficou em torno de 43% do rendimento
médio do trabalho; de 2017 a 2022, de 44%.
Ou seja, a política de Lula a partir de
certo ponto evitou que o mínimo perdesse para avanço dos salários determinados
em geral "no mercado". Depois, a Grande
Recessão (2015-2016) e os anos seguintes de PIBinho contiveram
salários em geral e, assim, contribuíram para que a diferença se estabilizasse.
Caso a última política de reajustes de Lula
tivesse sido seguida depois dos anos petistas, o mínimo equivaleria a quase 49%
do salário médio. Mas isso é uma abstração aritmética e uma simplificação ainda
maior das complicações do mundo de trabalho e salário. Por vários motivos, em
anos de crise teria sido muito difícil dar reajuste real ao mínimo. De resto,
em quanto é possível aproximar o mínimo da média? Tem limite. É preciso
aumentar a média.
Qual aumento será possível dar nos próximos
anos é outra questão. A perspectiva de crescimento médio para o primeiro biênio
de Lula 3 é, por ora, na melhor das hipóteses, parecida com a dos anos
ensanduichados entre a Grande Recessão e a epidemia (perto de 1,4% ao ano).
Mesmo que voltasse a regra antiga de aumento do mínimo (reajuste pelo
crescimento do PIB no biênio anterior, além da inflação), não sairia grande
coisa daí.
Um problema mais imediato é que o valor do
mínimo determina também o piso de benefícios do INSS (aposentadorias e outros).
Um aumento do mínimo, como se sabe, por isso aumenta as despesas do governo federal.
O pessoal da Fazenda ainda faz contas para
saber como acomodar o gasto extra do reajuste previsto para maio, assim como a
provável perda de receita com o Imposto de
Renda de quem ganha até dois mínimos (que serão isentos, o que por
tabela diminui um tico do imposto de quem ganha acima disso também).
Em março, o governo apresenta seu novo
método de limitar o crescimento da dívida pública (algum limitador de despesa e
déficit). O governo pretende elevar também investimentos, gastos sociais e
salários de servidores. Vai ser difícil acomodar o aumento do mínimo e tudo
isso no Orçamento, mesmo que a despesa federal fique no nível do ano passado
(como proporção do PIB). A economia teria de crescer muito mais rapidamente e
já, o que é a nossa grande questão faz uma década (para não dizer 40 anos).
Nota: mesmo ajustando essas contas do mínimo, é preciso ter certa cautela: metodologias oficiais de cálculo de rendimento médio do trabalho ("salário") mudaram, e as estatísticas do assunto tem certas manhas.
2 comentários:
O general-ditador Figueiredo era tosco, mas sincero, deixou que a Democracia seguisse seu rumo. Jair Bolsonaro, miliciano-capitão, é grotesco e MENTIROSO: pseudodemocrata, pseudorreligioso, pseudomilitar! O GENOCIDA tentou golpear nossa democracia de várias maneiras.
Devia aumentar o salário mínimo só pra quem ganha apenas um.
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