sábado, 10 de junho de 2023

Alvaro Gribel - Três vitórias e um risco para Haddad

O Globo

Ministro da Fazenda pode chegar a agosto com reformas aprovadas e o BC iniciando corte de juros

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderá chegar ao mês de agosto contabilizando três grandes vitórias na economia: a aprovação em definitivo do arcabouço fiscal no Senado, a aprovação da reforma tributária em uma das Casas, a Câmara, e o início do corte de juros pelo Banco Central. A fase é tão boa que os erros do programa automotivo elaborados pelo Ministério de Alckmin foram prontamente corrigidos pela Fazenda, com a antecipação da reoneração do óleo diesel, que garantiu a fonte de recursos para essa despesa. Ela será temporária e limitada a R$ 1,5 bilhão. O sucesso do ministro, contudo, será justamente o seu maior inimigo, pelo risco de atrair o fogo amigo de petistas que já pensam na sucessão em 2026.

Lição de casa

O gráfico mostra a forte valorização do Ibovespa. Desde 23 de março, a alta chega a 19,5%, configurando o que os economistas chamam de bull market, ou mercado do touro, que simboliza esse forte movimento de alta. O dólar também caiu para R$ 4,87, o menor patamar desde junho de 2022. Os números têm relação com a melhora do cenário externo, mas é inegável que a atuação da Fazenda contribuiu para o bom momento. “O risco de colapso da economia brasileira caiu com o arcabouço fiscal, apesar de a trajetória da dívida ainda ser de alta. E houve surpresas positivas com o PIB, principalmente no agronegócio. Os dados de inflação sinalizam que o BC está prestes a começar o ciclo de cortes”, explicou o economista Felipe Viana, da Agnus Investimentos.

Impulso chinês

O mercado tem reagido bem aos últimos indicadores de inflação lá fora. Ontem, foi a vez da inflação ao produtor chinês vir abaixo do esperado e registrar queda anual de 4,6% em abril. Esse dado é importante porque, como a China é a maior exportadora mundial, significa que ela pode “exportar” deflação a outros países.

Números do otimismo

O otimismo na bolsa não está restrito ao Brasil. O índice americano S&P salta 12,24% no ano, e o Nasdaq, das empresas de tecnologia, dispara 27,65%. Na Europa, o DAX, da Alemanha, sobe 13,36%, e o CAC 40, francês, tem valorização de 9,38%. “De forma geral, o bom momento é causado pela inflação, que está chegando ao pico em todo o mundo. Os números vieram um pouco mais baixos do que o esperado na Europa, isso foi uma surpresa boa, apesar de a região também ter tido uma leve recessão. Nos EUA, os últimos números também vieram um pouco melhores. Esse é o quadro macro", afirmou o economista Roberto Attuch Jr., fundador e CEO da OHM Research.

Pessimismo em baixa

Sobre o Brasil, Attuch Jr., que vive na Itália, acha que o mercado estava excessivamente pessimista com a gestão do PT na economia, logo após as eleições, e agora está colocando no preço dos ativos esta nova avaliação, mais favorável. “O mercado estava muito pessimista no início do ano. Com o ambiente polarizado, é normal ver isso. Muita gente que votou no governo anterior estava cético com o que o novo governo poderia fazer. Mas eles aprovaram o arcabouço fiscal, a inflação está vindo melhor, a balança comercial está vindo bem, e o PIB também ajudou”, explicou.

Semana decisiva

A próxima semana pode ser a mais importante do ano para a política monetária. O Banco Central se reúne na próxima quarta-feira e, embora ninguém aposte em queda dos juros, o comunicado do Copom será visto com mais atenção do que de costume, porque o BC pode finalmente apontar para o início do ciclo de cortes. A reunião do Fed, BC americano, no mesmo dia, também é vista como crucial, porque pode interromper o ciclo de alta por lá.

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