O Globo
Ministro da Fazenda pode chegar a agosto
com reformas aprovadas e o BC iniciando corte de juros
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderá chegar ao mês de agosto contabilizando três grandes vitórias na economia: a aprovação em definitivo do arcabouço fiscal no Senado, a aprovação da reforma tributária em uma das Casas, a Câmara, e o início do corte de juros pelo Banco Central. A fase é tão boa que os erros do programa automotivo elaborados pelo Ministério de Alckmin foram prontamente corrigidos pela Fazenda, com a antecipação da reoneração do óleo diesel, que garantiu a fonte de recursos para essa despesa. Ela será temporária e limitada a R$ 1,5 bilhão. O sucesso do ministro, contudo, será justamente o seu maior inimigo, pelo risco de atrair o fogo amigo de petistas que já pensam na sucessão em 2026.
Lição de casa
O gráfico mostra a forte valorização do
Ibovespa. Desde 23 de março, a alta chega a 19,5%, configurando o que os
economistas chamam de bull market, ou mercado do touro, que simboliza esse
forte movimento de alta. O dólar também caiu para R$ 4,87, o menor patamar
desde junho de 2022. Os números têm relação com a melhora do cenário externo,
mas é inegável que a atuação da Fazenda contribuiu para o bom momento. “O risco
de colapso da economia brasileira caiu com o arcabouço fiscal, apesar de a
trajetória da dívida ainda ser de alta. E houve surpresas positivas com o PIB,
principalmente no agronegócio. Os dados de inflação sinalizam que o BC está
prestes a começar o ciclo de cortes”, explicou o economista Felipe Viana, da
Agnus Investimentos.
Impulso chinês
O mercado tem reagido bem aos últimos
indicadores de inflação lá fora. Ontem, foi a vez da inflação ao produtor
chinês vir abaixo do esperado e registrar queda anual de 4,6% em abril. Esse
dado é importante porque, como a China é a maior exportadora mundial, significa
que ela pode “exportar” deflação a outros países.
Números do otimismo
O otimismo na bolsa não está restrito ao
Brasil. O índice americano S&P salta 12,24% no ano, e o Nasdaq, das
empresas de tecnologia, dispara 27,65%. Na Europa, o DAX, da Alemanha, sobe
13,36%, e o CAC 40, francês, tem valorização de 9,38%. “De forma geral, o bom
momento é causado pela inflação, que está chegando ao pico em todo o mundo. Os
números vieram um pouco mais baixos do que o esperado na Europa, isso foi uma
surpresa boa, apesar de a região também ter tido uma leve recessão. Nos EUA, os
últimos números também vieram um pouco melhores. Esse é o quadro macro",
afirmou o economista Roberto Attuch Jr., fundador e CEO da OHM Research.
Pessimismo em baixa
Sobre o Brasil, Attuch Jr., que vive na
Itália, acha que o mercado estava excessivamente pessimista com a gestão do PT
na economia, logo após as eleições, e agora está colocando no preço dos ativos
esta nova avaliação, mais favorável. “O mercado estava muito pessimista no
início do ano. Com o ambiente polarizado, é normal ver isso. Muita gente que
votou no governo anterior estava cético com o que o novo governo poderia fazer.
Mas eles aprovaram o arcabouço fiscal, a inflação está vindo melhor, a balança
comercial está vindo bem, e o PIB também ajudou”, explicou.
Semana decisiva
A próxima semana pode ser a mais importante do ano para a política monetária. O Banco Central se reúne na próxima quarta-feira e, embora ninguém aposte em queda dos juros, o comunicado do Copom será visto com mais atenção do que de costume, porque o BC pode finalmente apontar para o início do ciclo de cortes. A reunião do Fed, BC americano, no mesmo dia, também é vista como crucial, porque pode interromper o ciclo de alta por lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário