Touraine: Não diria
isso. Estamos vivendo com partidos nem de direita nem de esquerda, mas
"hors politique " [literalmente, fora da política]. É verdade que
existem mais governos de extrema-direita do que de extrema-esquerda. É
consequência de um fenômeno quase sem equivalência na história, o
desmoronamento do sistema político ocidental. É bem recente. Na França, o ano
traumatizante foi 2015, o dos atentados ao "Charlie Hebdo", e depois
o Bataclan. Para a maioria, o ano marcante foi 2016, primeiro com o Brexit e,
depois, com a eleição de [Donald] Trump. Não foi apenas uma crise. Foi o
desmoronamento dos sistemas políticos da Inglaterra e Estados Unidos. Em 2017,
apareceu [Emmanuel] Macron, quando na França não havia nem direita nem
esquerda, era terra arrasada. Em 2018, teve o início do regime na Itália, com
muitas características fascistas, o que não é um detalhe. E ainda veremos
acontecer o desmoronamento do partido social-democrata alemão, um fenômeno
prodigioso: a ruptura entre os sindicalistas, que formam a metade da
social-democracia, e os intelectuais agora transmutados em ecologistas.
*Alain Touraine (3. 8.1926 – 9.6.20.23).
Entrevista, Valor Econômico em 13. 4. 2019.
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