domingo, 25 de junho de 2023

Elio Gaspari - Miep, a secretária que virou asteroide

O Globo

Disney produziu a série 'A small light', da secretária do comerciante judeu Otto Frank

A Disney produziu a série “A small light” (“Uma pequena luz”). É a história de Miep Gies, a secretária do comerciante judeu Otto Frank. Durante dois anos ela garantiu a sobrevivência da família de Frank, escondida no sótão do escritório, em Amsterdam. Em agosto de 1944, quando um policial austríaco (como ela) os descobriu, Miep conseguiu guardar o diário de Anne, a filha adolescente de Otto. A garota morreu em março de 1945 no campo de concentração de Bergen-Belsen, mas seu diário tornou-se uma referência para a história da perseguição aos judeus.

Miep levou uma vida discreta e morreu em 2010, aos 101 anos. Desde 2009, um asteroide que circula entre Marte e Júpiter leva o seu nome.

Miep foi um exemplo da banalidade do bem. Já o policial que prendeu os Frank foi protegido pela banalidade do mal e nunca foi responsabilizado pelo seu ato. Ele se chamava Karl Silberbauer. Tinha 22 anos e pertencia à tropa da SS. Depois da guerra foi incorporado à polícia da Alemanha.

Foi o jogo jogado. Afinal, Kurt Waldheim, um oficial do Exército alemão metido com atrocidades cometidas na Iugoslávia, acabou na Secretaria-Geral das Nações Unidas e elegeu-se presidente da Áustria em 1971. Wernher von Braun, que fabricava bombas para os alemães com mão de obra de um campo de concentração, foi um dos cérebros que levaram o primeiro homem à Lua.

Um tesouro na rede

Está na rede a dissertação de mestrado de Blima Rajzla Lorber intitulada “Brasileiros no Holocausto e na Resistência ao nazifascismo”. Pesquisando nos abundantes arquivos do período e valendo-se das memórias de sobreviventes, ela produziu um tesouro. De um lado mostrou os 42 brasileiros mortos nos campos de extermínio nazistas. De outro, mostrou que pelo menos 81 brasileiros estiveram na Resistência Francesa, e 15 morreram.

Os judeus assassinados tinham nascido no Brasil, ou tinham passaportes brasileiros. Por algum motivo, estavam na França ou em territórios controlados pelos alemães.

O cearense Isaac Gradvohl, figura destacada na vida de Fortaleza, vivia com a mulher em Paris. Morreram no campo de Auschwitz no dia 2 de novembro de 1942. (No mesmo dia a polícia da ditadura de Getulio Vargas varejou o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, prendendo 30 estudantes.)

Em 1944, quando o governo de Vargas limitou a concessão de passaportes a brasileiros “de origem semítica”, 17 brasileiros que viviam na França foram deportados para Auschwitz. No dia 24 de julho os alemães fuzilaram o paulista Claude Falk, tenente das tropas francesas que combatiam na Resistência. Em agosto, o cearense Michel Dreyfus, combatente da Resistência Francesa, foi fuzilado, e o carioca Benjamin Levy, com a mulher e a filha foram mandados para o campo de Bergen-Belsen.

Em março de 1945, Hitler estava trancado no seu bunker de Berlim, e Getulio Vargas deu uma entrevista admitindo continuar no governo, pelo voto. Na véspera, morreu no campo de Gusen II o jovem gaúcho Jacopo Dentici, combatente da Resistência Italiana. No dia seguinte, no campo de Buchenwald, morreu o paulista Robert Lepelerie, da Resistência Francesa.

Em abril o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as sentenças da ditadura do Estado Novo e dias depois foi executado o judeu Francisco José Messner, que havia sido vice-cônsul do Brasil em Viena até 1931.

A guerra estava acabando. No dia 6 de maio de 1945 Hitler já estava morto e a Alemanha estava a horas da rendição, quando o campo de Ebensee, onde estava o carioca Hubert Aron-Martin, foi libertado. Desde janeiro, ele já havia passado por outros dois. Morreu livre, duas semanas depois. No dia seguinte o repórter Ed Miller, da Associated Press, furou o embargo da censura militar dos Aliados e anunciou que a guerra tinha terminado.

Blima Lorber registra que em março de 2018, a octogenária Mireille Knoll foi morta em Paris por ser judia. Em 1942, na França, ela tinha dez anos quando seus pais conseguiram fugir, escondendo algumas joias na sua boneca.

Moro e Zanin

O senador Sergio Moro sabatinou o advogado Cristiano Zanin com elegância. Só derrapou quando lhe perguntou se havia sido padrinho de casamento de Lula. Era notícia falsa e, se o senador tivesse pedido a um assessor que a checasse, evitaria o mau momento.

Quando ele era juiz, divulgou o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci às vésperas do primeiro turno da eleição; poderia ter perguntado a um estudante de Direito o que achava da ideia.

Bolsonaro x Lula

De um sábio, comparando o governo de Bolsonaro com o de Lula.

Até o dia 1º de janeiro nós passamos pela situação de um sujeito que padeceu de uma doença por quatro anos. Desde então, ficamos como o sujeito depois de curado. Alguns dias são péssimos e outros são tranquilos.

Lula diplomático

Na sua conversa com o presidente italiano Sergio Mattarella, Lula disse que a proposta do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, exigindo a retirada das tropas russas bloqueia as negociações, pois isso significa uma “humilhação” para o russo Vladimir Putin.

Desde sempre, em diversas conversas com líderes estrangeiros, Lula já expôs sua teoria de que não se pode colocar na mesa condições que humilhem a outra parte.

Parece óbvio, mas negociações diplomáticas que levam anos nascem dessa aparente intransigência.

Na guerra do Vietnã, Hanói e o Vietcongue exigiam a saída dos americanos do país. Os Estados Unidos começaram a conversar em 1967 e a negociar em 1968. Depois de seis anos centenas de milhares de mortos (58 mil dos quais americanos), a tropa foi embora. O então secretário de Estado e hoje centenário Henry Kissinger pedia um “intervalo decente” para a hipótese de o Vietnã do Norte tomar o do Sul. Era conversa fiada, e Saigon (hoje Ho Chi Minh) foi tomada em abril de 1975.

Como não morriam mais americanos, o tema da humilhação tornou-se secundário.

Solução feminina

São tantos os candidatos para a vaga da ministra Rosa Weber que a gravidade poderá levar Lula a indicar uma mulher.

Se fizer isso, agradará metade do eleitorado e inibirá reações negativas dos que vierem a se julgar preteridos.

A bancada masculina disputaria a possível vaga do ministro Luís Roberto Barroso, caso ele resolva deixar o tribunal em 2025, ao sair de sua presidência. Até lá, agradaria o Planalto.

Alcolumbre

A confortável maioria conseguida por Cristiano Zanin ajudou a fortalecer a posição de Davi Alcolumbre no Planalto.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, pode ser mais temido, mas Alcolumbre ficou mais perto da caneta.

Desastre do Titan

Não é por nada, mas é preferível que as pessoas se refiram ao “navio” quando tratarem do objetivo da viagem do infelicitado Titan.

Desde o dia em que o “navio” zarpou da Inglaterra sendo considerado uma maravilha do mundo, ele não traz sorte.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é,os ricos morreram em fração de segundos,uma pena,mas melhor que morrerem asfixiados.