sábado, 23 de dezembro de 2023

Alvaro Gribel - Os feitos e os não desfeitos

O Globo

Tão importante quanto a aprovação de reformas este ano foi o não cumprimento de algumas ameaças de Lula na área

O ano termina com um saldo positivo na aprovação de reformas econômicas, mas também com uma lista de ameaças não cumpridas na área pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De um lado, houve aprovação da reforma tributária, do novo marco fiscal, e de várias medidas de recomposição da arrecadação, como diz o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De outro, o país não retrocedeu nas reformas trabalhista e da previdência, na mudança da meta de inflação, no marco do saneamento e na independência do Banco Central, entre outros avanços. Fica a dúvida se Lula falou apenas para agradar à militância, mas o fato é que a bolsa bateu recorde, e a inflação e os juros estão em queda.

Volta por cima

Em outubro de 2022, o clima era de alívio entre militantes do PT em um evento do partido em São Paulo após a divulgação da primeira pesquisa eleitoral do segundo turno mostrando Luiz Inácio Lula da Silva à frente de Jair Bolsonaro. Nos corredores e salões de um hotel na capital paulista, no entanto, uma pessoa demostrava sinais de abatimento: Fernando Haddad, que ainda assimilava o resultado do primeiro turno em sua disputa para o governo estadual, atrás do candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas. A virada não veio, mas seu nome logo começaria a circular como provável ministro da Fazenda do governo Lula. Haddad perdeu o governo, mas um ano depois se consolidou como homem forte da economia.

Visão Mais otimista

O banco de investimentos UBS/BB permanece com a visão mais otimista do mercado para o cenário de inflação e juros no país. Depois de acertar as projeções de 2023 — em janeiro o banco já previa o IPCA em 4,7%, ou seja, dentro da meta — o economista-chefe do banco Alexandre de Ázara estima que a inflação oficial vai encerrar 2024 em 3%, exatamente no centro da meta. Com isso, ele estima que o BC vai levar a Selic a 8% em dezembro do ano que vem. “Entendemos que a inflação de bens será mais baixa, assim como os preços dos alimentos”, disse Ázara. Para efeito de comparação, o Boletim Focus estima o IPCA em 3,93%, com a Selic em 9,25%, no final do ano que vem. Os números reforçam o quanto o governo tem a ganhar se mantiver o plano de voo atual na economia e focar no ajuste fiscal.

Risco em queda

Com uma queda de 45% este ano, como mostra o gráfico, o risco-país medido pelo Credit Default Swap (CDS) atingiu o menor patamar em dois anos. De 30 de dezembro de 2022 ao fechamento de ontem, o risco caiu de 250 pontos para 135 pontos. Quanto mais alto esse indicador, maior a probabilidade, na visão dos investidores, de calote por parte de um governo. A melhora do rating brasileiro pela S&P esta semana praticamente ajusta a nota do governo ao que já mostrava o CDS. Para efeito de comparação, o CDS da Argentina bateu em 4.200 pontos.

Momento regional

Brasil, Chile, Peru e Colômbia já iniciaram ciclos de cortes de juros na América Latina. Segundo o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, o México será o próximo país da região a cortar a taxa, no primeiro trimestre de 2024. “A maioria dos países, com exceção da Argentina, já passou pelo pico inflacionário”, diz o banco. Ainda assim, as projeções de crescimento do PIB giram em torno de 2% em 2024.

Preço do ajuste

O Bradesco também estima que o PIB da Argentina vai recuar 5% em 2024, para uma inflação de 250% ano ano. Os números mostram o tamanho do desafio que a população argentina terá de enfrentar para conseguir superar as medidas de ajuste apresentadas pelo presidente Javier Milei. Com um choque tão forte em pouco tempo, fica a dúvida se não haverá uma convulsão social no país.

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