O Estado de S. Paulo
Dizem que o sapo não percebe quando, dentro
de uma panela, a água começa a esquentar. Quando se dá conta, pode ser tarde
demais. Assim, também o ser humano talvez não perceba que há em curso enormes
transformações globais. Mais ainda, pode não se dar conta de que essas
transformações acontecem a uma velocidade espantosa. Decorreram centenas de
milênios até a invenção do fogo. Hoje, revoluções da mesma ordem acontecem em
apenas alguns anos.
Dentro de mais alguns anos, algum historiador dará um nome para este período da história, com importância equivalente ao que foi o Renascimento e a Revolução Industrial.
Dia 24/12, em sua imperdível coluna neste
Estadão, o diplomata e atual presidente do Instituto de Relações Internacionais
e Comércio Exterior (Irice), Rubens Barbosa, alinhavou cinco grandes
transformações na economia e na geopolítica. Ele menciona o declínio da
supremacia ocidental; o emprego das novas tecnologias, em especial a
Inteligência Artificial, que pode tornar-se mais importante, avisa ele, que a
invenção da roda; as mudanças climáticas, que exigem grande esforço de
transição energética; o enfraquecimento das instituições multilaterais
destinadas a preservar a paz mundial; e as mudanças no que chama de
geoeconomia.
Esta coluna pretende, a título de
complementação, alinhavar mais três grandes mudanças que estão reformatando a
cara da economia e da política mundial.
A primeira delas é o aumento da expectativa
de vida e do envelhecimento da população. Está destinada a produzir impactos
não apenas sobre os sistemas de aposentadoria e pensão, mas, também, sobre as
políticas públicas, que demandarão, por exemplo, menos escolas, mais lares para
os velhinhos e adaptação das cidades. Importante: uma população mais velha
tende a acentuar o voto conservador, em cada país e no âmbito geopolítico.
Outra grande mudança é a que perpassa as
relações de trabalho. De um lado, o maior emprego de tecnologias levou as
empresas à dispensa crescente de mão de obra. De outro, a disseminação de
aplicativos levou o trabalhador a pular para o empreendedorismo, que dispensa
patrão e cartão de ponto e esvazia os sindicatos.
Uma terceira grande mudança, não menos
importante do que as anteriores, é a crescente emancipação da mulher, não só
para a vida profissional, mas para as atividades sociais e políticas – e para
as práticas esportivas. É uma transformação que já começa a redesenhar os
padrões do comportamento familiar e, a partir daí, da vida em sociedade.
Os atuais pensadores parecem ter uma visão
apenas fragmentada dessas megatransformações. Ainda não conseguem entender as
conexões entre elas e as grandes consequências sobre as relações humanas, sobre
a economia mundial e sobre a geopolítica. Quem sobreviver verá.
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