Folha de S. Paulo
EUA ameaçam atacar Venezuela e Colômbia,
tentam salvar a Argentina de Javier Milei
O que o Brasil vai dizer nas negociações se
houver intervenção americana na região?
Luiz Inácio Lula da
Silva está para
encontrar-se com Donald Trump.
Uma dúvida maior é saber o que os Estados
Unidos vão querer do Brasil como condição de um acordo, comercial,
de outras relações econômicas ou até político e diplomático.
Uma complicação importante é que os EUA não estavam tão interessados nas Américas fazia uns 20 anos. Antes, houvera ação maior na frente latino-americana da guerra às drogas, dos anos 1980 ao início dos 2000.
Houve dinheiro para evitar o colapso de
México e Brasil na segunda metade dos 1990. Ou a renegociação da dívida dos
latino-americanos quebrados nos anos 1980 (na verdade, salvação dos banqueiros
de EUA). O interesse
agora é mais agressivo.
O que os EUA de Trump querem? O projeto
político de Marco Rubio, secretário de Estado, é combater ou derrubar a
esquerda latino-americana, qualquer coisa que queira chamar de governo de
esquerda, de Venezuela e
Nicarágua a Brasil, Chile e Colômbia.
Qual outro interesse? É tentativa entre desastrada e idiótica de afastar a
China da região?
Trump mandou navios de guerra para o Caribe.
Bombardeia barcos de supostos traficantes de drogas. Ameaça intervenção militar
ou da CIA na Venezuela, em tese contra traficantes, que os americanos dizem ser
ameaça maior do que jihadistas.
Trump disse
no domingo que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, nada
faz contra a produção de drogas e o chamou de "illegal drug leader".
Caso Petro não encerre a produção de drogas, ameaça Trump, "os EUA vão
encerrá-las para ele, e não vai ser de um modo agradável".
Em janeiro, Trump ameaçara cobrar impostos de
importação de 25% sobre produtos colombianos caso o país não recebesse voos com
deportados. Ameaça agora novo tarifaço. O governo colombiano fala de
"ameaça de invasão".
O Chile de Gabriel Boric escapou
de um tarifaço de 50% sobre o cobre e não tem por ora problemas maiores com
Trump. Como se sabe, o Brasil enfrenta o tarifaço, sanções contra autoridades
federais e esteve sob ameaça de ataques mais graves.
Os Estados Unidos tentam salvar Javier Milei.
Em parte, pelo motivo óbvio de o presidente argentino ser da direita extrema e
bajular Trump. Em parte, pode ser tentativa destrambelhada de afastar a Argentina da
China.
O Tesouro dos
EUA compra pesos (coloca dólar no país de Milei), ofereceu uma ainda
obscura linha de crédito e organiza um empréstimo privado, de bancos e gestores
trilionários de investimentos, com garantias do Tesouro.
Para resumir história complicada, sem a taxa
de câmbio quase fixa do peso pelo dólar, a inflação pode sair do controle
—seria necessário elevar então as taxas de juros às alturas, o que derrubaria a
difícil retomada do crescimento. Mas, com peso sobrevalorizado e quase fixo,
não entra dólar bastante na Argentina cheia de dívida externa. O peso caro
limita o saldo comercial e assusta potenciais investidores, que temem
desvalorização do peso, talvez logo depois da eleição de domingo.
O problema argentino vai longe. O Tesouro
americano corre risco de levar calote, direto ou indireto. A mera ameaça já
pega mal nos EUA, inclusive entre republicanos. Mas Trump banca a aposta.
Lula vai conversar com Trump em um momento em
que a ofensiva americana na América do
Sul se intensifica, pois. As conversas devem levar meses. Vai
ouvir exigências americanas ruins? O que vai dizer em caso de agressão contra o
continente? É no mínimo uma complicação.
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