quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A semana de Alcolumbre, por Julia Duailibi

O Globo

Ele venceu queda de braço com Ibama e ajudou no passo atrás de Lula na iminente nomeação de Messias

A semana não acabou, mas já tem um vencedor: o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Num mesmo dia, o senador pelo Amapá venceu uma queda de braço de anos com o Ibama sobre a autorização para pesquisa de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas e colaborou com o passo atrás do presidente Lula na então iminente nomeação de Jorge Messias para ministro do STF.

A aprovação do Ibama para pesquisa de petróleo na Margem Equatorial, área próxima à costa do seu estado, o Amapá, foi sua principal missão ao assumir a presidência do Senado. É verdade que Alcolumbre já contava com a simpatia de Lula na matéria, mas, ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com quem rompeu depois, deu peso político ao tema. Foi bater perna na Petrobras, se aproximou de Magda Chambriard e, quando a licença saiu, trocou figurinhas pelo celular com ela. Se for mesmo encontrado petróleo — como disse Chambriard a Miriam Leitão, isso “só a broca vai dizer”—, serão bilhões de dólares injetados em seu estado. Bilhões que estão mudando a cara de países vizinhos, como Guiana e Suriname. Os políticos estão de olho nesses investimentos.

O presidente do Senado também colheu vitória, ao menos momentânea, na corrida pela definição do novo ministro do STF. A indicação do advogado-geral da União deveria ter saído antes da viagem de Lula ao Sudeste Asiático. Era essa aposta dos ministros no Planalto. Na segunda-feira, no entanto, o presidente almoçou com os líderes governistas e pediu a eles um panorama realista dos votos “dos nossos” para aprovar o nome de Messias no plenário do Senado. O pessoal saiu a fazer contas pela mesa. Os líderes perceberam que a vida não estava tão fácil assim. Excluindo os senadores que estão na órbita de Alcolumbre, sobrava pouca coisa para aprovar o nome do favorito de Lula. Sinal amarelo.

O sinal vermelho veio pouco depois. Em encontro no Alvorada, de pouco mais de uma hora, Lula ouviu de Alcolumbre o mesmo diagnóstico. Diferentemente de Rodrigo Pacheco, que já foi presidente do Senado e tem entrada em setores do governo, do centro e da oposição na Casa, Messias precisa construir um eleitorado, e não é Alcolumbre quem fará isso para ele. O presidente do Senado deixou claro a Lula que a escolha dele é Pacheco. Lula percebeu que terá de colocar a mão na massa por Messias e pretende fazer isso quando voltar da Malásia.

As vitórias da semana são um exemplo de como Alcolumbre se tornou um dos nomes mais influentes da República no governo Lula 3. Num cenário em que o Planalto não pode contar com a Câmara, claudicante sob Hugo Motta, a mão pesada de Alcolumbre, que dominou os caminhos das emendas entre seus pares, se tornou garantia de segurança para o Planalto.

O presidente do Senado tem hoje ministros na Esplanada, cargos no segundo escalão e sinalização de que terá caminho fácil em temas de seu interesse, como licenciamento ambiental ou petróleo na Margem Equatorial. Ele sabe até onde pode esticar a corda para emplacar Pacheco no STF. E esticará até o ponto em que for conveniente para não corroer sua influência do outro lado da Praça dos Três Poderes.

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