Folha de S. Paulo
Foram seis ou sete anos conspurcando este
espaço com o nome Bolsonaro
Agora, quem sabe voltarei a escrever apenas
sobre cultura, comportamento e abobrinhas
Bolsonaristas, aproveitem. Esta é uma das últimas crônicas que escreverei sobre seu herói. Nos últimos cinco ou seis anos, conspurquei muitas vezes este espaço respingando na tela o nome Bolsonaro, pelo risco que ele representava para a democracia. Risco, aliás, fácil de prever desde a campanha eleitoral em 2018, dada a coerência histórica da extrema direita em seus discursos: pregação da antipolítica, obsessão pela corrupção (a alheia, claro) e a urgência de um líder messiânico, de "fora do sistema", para dar jeito no país. O objetivo, óbvio, era a ditadura —só não estava clara ainda a estratégia.
No começo, a fúria de Bolsonaro em armar a
população parecia indicar a preparação para uma guerra civil entre seus
partidários e as forças constituídas. Dali a pouco, enxergou-se a alternativa
melhor: corromper essas próprias forças, as Armadas, nomeando generais até como
seguranças de prédios e, de baixo para cima, infiltrar agentes nas várias
camadas do Judiciário —investigadores, policiais, delegados, juízes de primeira
instância, secretários da Justiça— e homens de confiança na PGR e
no STF.
Com isso, as duas pontas ficariam amarradas: a certeza de, em caso de
necessidade, um golpe militar avalizado pela lei. Deu mal, como se sabe, pelo
compromisso dos militares e dos magistrados com a democracia. Mas foi por
pouco.
Por fim, como o último espasmo de um
moribundo, as manobras de Eduardo Bolsonaro para chantagear o Brasil com
medidas econômicas por Donald Trump.
Mas, como também foi dito e repetido aqui, inocentes os que confiassem na
disposição de Trump para dispensar negócios com um país a fim de livrar um
político desprezivelmente perdedor.
É por isso que começo a me despedir de meus
fiéis leitores bolsonaristas. Com Trump às voltas com seus problemas e
Bolsonaro já dado como um zumbi por seus ex-aliados, voltarei com prazer a me
dedicar a colunas sobre cultura e comportamento e às abobrinhas mais candentes
da atualidade.
Necrofilia não rende crônica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário