Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Se o atual padrão de ajuste de custos se mantiver, teremos um mercado mais forte e um menor nível de pessimismo
OS PRIMEIROS resultados da atividade econômica global na primeira metade de 2009 começam a ser divulgados. Ontem, ficamos sabendo que o PIB chinês cresceu a uma taxa anualizada de 16,5% entre abril e junho passados. Nos três primeiros meses do ano, o gigante asiático havia crescido 6,1%, e, no último trimestre de 2008, apenas 1,5%. Uma recuperação impressionante.
Mas são alguns vetores desse crescimento que chamam a atenção do analista mais cuidadoso.
As vendas no varejo cresceram no segundo trimestre deste ano em relação a 2008 a uma taxa anualizada de 24%. Nesse mesmo período, a China passou a ser o maior mercado mundial de venda de automóveis, superando os Estados Unidos. Ainda do lado da atividade econômica voltada para o consumo interno, é importante ressaltar o crescimento de quase 20% ao ano na construção de imóveis residenciais.
Sabemos que a chave para um crescimento sustentado na China está no aumento do consumo interno e na redução da dependência das exportações industriais. Por isso, os analistas acompanham com lupa essa mudança de dinâmica no crescimento chinês. Os dados divulgados ontem vão nessa direção, embora apenas a manutenção desse movimento em prazo mais longo será prova definitiva de sucesso.
Em uma economia dirigida por um governo central forte e com sólida visão estratégica de longo prazo, a política econômica está direcionada para acelerar a transição para esse novo modelo de crescimento. O susto dos últimos meses de 2008 e da parte inicial de 2009 alertou o governo dos riscos que corre se não tiver sucesso no reequilíbrio agora buscado. Aposto nessa direção e acredito no crescimento chinês nos próximos anos.
Nesse sentido, reproduzo ao leitor da Folha a informação de que o valor de mercado das empresas chinesas, negociadas nas Bolsas de Valores, já supera o das japonesas -e perde apenas para as norte-americanas.
Mas a atenção dos mercados não está voltada apenas para os dados macro das principais economias do mundo. Entramos no período de divulgação dos resultados trimestrais das principais empresas negociadas nas Bolsas de Valores nos Estados Unidos. Em época de crise de confiança na maior economia do mundo, seus lucros e, principalmente, as previsões para o resto do ano são informações decisivas.
A legislação norte-americana nessa questão não foi enfraquecida pela onda ultraliberal dos últimos anos, e as informações passadas aos mercados são vistas com grande credibilidade.
Embora o número de empresas que já divulgaram seus balanços seja ainda muito pequeno, alguns padrões estão aparecendo. O primeiro é a força dos lucros dos bancos, principalmente dos resultados de tesouraria obtidos em razão dos juros baixíssimos nos mercados interbancários e da melhoria nas condições de crédito. Com isso, os prejuízos com a inadimplência crescente de seus devedores estão sendo compensados, sem comprometer ainda mais sua estrutura de capital.
Além disso, outro padrão aparece nos resultados já divulgados das empresas não financeiras. O ajuste de custos nos últimos três meses, principalmente no volume de emprego e no nível dos salários, está sendo maior do que o esperado pelos analistas. Se esse padrão se mantiver até o fim, poderemos ter um mercado mais forte nas próximas semanas, o que pode reduzir ainda mais o pessimismo que vivemos nos últimos meses.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Se o atual padrão de ajuste de custos se mantiver, teremos um mercado mais forte e um menor nível de pessimismo
OS PRIMEIROS resultados da atividade econômica global na primeira metade de 2009 começam a ser divulgados. Ontem, ficamos sabendo que o PIB chinês cresceu a uma taxa anualizada de 16,5% entre abril e junho passados. Nos três primeiros meses do ano, o gigante asiático havia crescido 6,1%, e, no último trimestre de 2008, apenas 1,5%. Uma recuperação impressionante.
Mas são alguns vetores desse crescimento que chamam a atenção do analista mais cuidadoso.
As vendas no varejo cresceram no segundo trimestre deste ano em relação a 2008 a uma taxa anualizada de 24%. Nesse mesmo período, a China passou a ser o maior mercado mundial de venda de automóveis, superando os Estados Unidos. Ainda do lado da atividade econômica voltada para o consumo interno, é importante ressaltar o crescimento de quase 20% ao ano na construção de imóveis residenciais.
Sabemos que a chave para um crescimento sustentado na China está no aumento do consumo interno e na redução da dependência das exportações industriais. Por isso, os analistas acompanham com lupa essa mudança de dinâmica no crescimento chinês. Os dados divulgados ontem vão nessa direção, embora apenas a manutenção desse movimento em prazo mais longo será prova definitiva de sucesso.
Em uma economia dirigida por um governo central forte e com sólida visão estratégica de longo prazo, a política econômica está direcionada para acelerar a transição para esse novo modelo de crescimento. O susto dos últimos meses de 2008 e da parte inicial de 2009 alertou o governo dos riscos que corre se não tiver sucesso no reequilíbrio agora buscado. Aposto nessa direção e acredito no crescimento chinês nos próximos anos.
Nesse sentido, reproduzo ao leitor da Folha a informação de que o valor de mercado das empresas chinesas, negociadas nas Bolsas de Valores, já supera o das japonesas -e perde apenas para as norte-americanas.
Mas a atenção dos mercados não está voltada apenas para os dados macro das principais economias do mundo. Entramos no período de divulgação dos resultados trimestrais das principais empresas negociadas nas Bolsas de Valores nos Estados Unidos. Em época de crise de confiança na maior economia do mundo, seus lucros e, principalmente, as previsões para o resto do ano são informações decisivas.
A legislação norte-americana nessa questão não foi enfraquecida pela onda ultraliberal dos últimos anos, e as informações passadas aos mercados são vistas com grande credibilidade.
Embora o número de empresas que já divulgaram seus balanços seja ainda muito pequeno, alguns padrões estão aparecendo. O primeiro é a força dos lucros dos bancos, principalmente dos resultados de tesouraria obtidos em razão dos juros baixíssimos nos mercados interbancários e da melhoria nas condições de crédito. Com isso, os prejuízos com a inadimplência crescente de seus devedores estão sendo compensados, sem comprometer ainda mais sua estrutura de capital.
Além disso, outro padrão aparece nos resultados já divulgados das empresas não financeiras. O ajuste de custos nos últimos três meses, principalmente no volume de emprego e no nível dos salários, está sendo maior do que o esperado pelos analistas. Se esse padrão se mantiver até o fim, poderemos ter um mercado mais forte nas próximas semanas, o que pode reduzir ainda mais o pessimismo que vivemos nos últimos meses.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
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