Silvia Amorim
SÃO PAULO. A promessa do PSDB e do DEM de construir uma oposição forte, uma agenda propositiva para o país e uma ação fiscalizadora do governo está restrita, até agora, ao plano do discurso. Enquanto a presidente Dilma Rousseff completa os primeiros cem dias do seu governo com uma alta aprovação, a oposição amarga no período um desempenho marcado por crises internas e falta de unidade. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), anunciado como o principal líder oposicionista, manteve-se distante da linha de frente dos debates políticos.
Na discussão sobre o reajuste do salário mínimo no Congresso, o primeiro teste da oposição neste ano, ficou clara a fragilidade e a dificuldade de articulação entre os dois principais partidos oposicionistas.
PSDB e DEM, já em desvantagem numérica em relação à base governista, não conseguiram construir um discurso único e marcharam separadamente. O PSDB defendeu a proposta de R$600 para o mínimo, e o DEM, de R$560. Venceu o governo com R$545.
Tendo Dilma o apoio de cerca de 80% da Câmara e 75% do Senado, a derrota da oposição era mais do que esperada. O relevante do episódio foi a exposição da falta de unidade da oposição.
A relação entre PSDB e DEM não é das melhores desde a eleição presidencial. Os desentendimentos foram tantos que ainda deixam sequelas.
Crises internas também contribuíram para a performance oposicionista. E, nesse quesito, o DEM superou os tucanos.
O próprio líder do DEM na Câmara, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), admitiu que a disputa de forças internas e a decisão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, de criar um novo partido, o PSD, levando quadros da antiga legenda, desestabilizaram a condução dos trabalhos no Congresso.
- Tivemos que dedicar tempo e energia para evitar que esse golpe na oposição, que é o PSD, tivesse resultados mais consistentes. Isso desviou um pouco o foco neste começo, mas tenho a confiança que, superando isso, o DEM e o PSDB reúnam condições para o enfrentamento político com o governo - disse ACM Neto.
Disputa interna por comando racha PSDB
No PSDB, a briga de forças seguiu mais silenciosa e tem como pano de fundo a escolha do presidente nacional da sigla. O atual dirigente, deputado Sérgio Guerra (PE), está no páreo. Serra, embora não tenha se colocado oficialmente na disputa, estaria trabalhando nos bastidores para ocupar o cargo.
A discrição de Aécio vem sendo vista por parlamentares tucanos como uma estratégia que não deve mudar tão cedo. Alguns dizem que subir à tribuna e contestar o governo como uma prática rotineira não é perfil do mineiro, mais conhecido por sua atuação nos bastidores políticos.
Para o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Claúdio Gonçalves Couto, a oposição mostrou-se "esfacelada".
- A oposição se saiu mal neste início de governo. Está sem discurso capaz de contrastar com o governo neste momento. Temos de um lado um governo que vem tendo uma presidente com boa avaliação no início do mandato e, de outro, uma oposição esfacelada - avaliou Couto.
O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR) faz uma avaliação mais otimista.
- Esses primeiros meses serviram para que tivéssemos a exata noção do tamanho das limitações - disse Dias.
FONTE: O GLOBO
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