Na véspera do Congresso do PT, realizado o último fim de semana, a senadora Marta Suplicy reuniu seu estado-maior político, em Brasília, e prometeu para já uma decisão sobre sua candidatura a prefeito de São Paulo. Sua intenção é permanecer na disputa, apesar da preferência - nunca manifestada com todas as letras - do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo nome do ministro Fernando Haddad, da Educação.
Marta falou de seus dilemas e contou a conversa que teve com Lula sobre a sucessão em São Paulo. A senadora disse ao ex-presidente que quer voltar a ser prefeita para concluir "uma obra que deixei pela metade". Eleita em 2000, Marta perdeu o posto para o tucano José Serra em 2004, apesar de ter feito uma gestão bem avaliada pelos paulistanos. Derrotada, deixou a sede da municipalidade com aprovação de 48% do eleitorado.
Marta perdeu quando tinha certeza da reeleição. Diz que está satisfeita no Senado, mas sente que deixou um trabalho inconcluso. Não há dia em que a ex-prefeita não pense no apelo que Lula lhe fez para retirar sua pré-candidatura, sob a alegação de que ela é importante no Senado. Marta não vê como disputar uma eleição contra a vontade de Lula. Mas pesquisas como a divulgada ontem pelo Datafolha, na qual aparece 11 pontos à frente do tucano melhor colocado (José Serra) reforçam a intenção de se manter no páreo.
A mesma pesquisa, por sinal, aponta para a fragilidade de Fernando Haddad: muito embora 40% do eleitorado paulistano tenha manifestado disposição para votar em alguém indicado por Lula, é baixa a intenção de votos em Haddad - 2%. Fernando Haddad já é reconhecido por parcela da população como o "homem de Lula".
Sem Marta, o time do PT para as eleições de 2012 na maior cidade do país está repleto de candidatos infanto-juvenis como Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, mesmo caso de Haddad, a menos que Lula consiga fazer pelo ministro da Educação o milagre da multiplicação de votos que fez com Dilma. Lula será capaz de repetir em São Paulo o que fez com Dilma em praticamente todo o país?
A pergunta que se faz é por que Lula insiste com Fernando Haddad: se é capaz de eleger um ministro que atravessou dois governos sob crítica cerrada, o ex-presidente poderia fazer o mesmo com Marta. O problema seria que Marta "tem teto" e dificilmente ganharia a eleição. Ela costuma refutar: sua rejeição (30%, segundo o Datafolha) não é muito diferente daquela exibida por José Serra (30%) - aliás, ela está convencida de que Serra vai remanchear, mas ao final será o candidato do PSDB a prefeito. "As pessoas se repetem", costuma dizer a ex-prefeita paulistana.
Os argumentos usados por Lula não convenceram Marta, até agora. Até onde se sabe, o ex-presidente elogiou seu trabalho no Senado e disse que ela tem muito a contribuir com o governo da presidente Dilma Rousseff. Marta insistiu, com os correligionários com os quais se reuniu na véspera do encontro do PT, que não tem outro interesse, no momento, a não ser a prefeitura. Circula no PT que ela "joga alto" a fim de tentar, ao menos, beliscar um ministério. Ideia repudiada, entre outros, pelo presidente do partido, deputado estadual Rui Falcão.
É difícil entender as motivações de Lula, nem o ex-presidente diz claramente que Haddad é seu candidato. Seu lugar-tenente Luiz Marinho se encarrega disso. Além de Haddad, Lula provavelmente terá outro aliado na eleição para a prefeitura de São Paulo: Gabriel Chalita (PMDB). O candidato, entre os dois, que perder deve apoiar o outro no segundo turno.
Lula, na realidade, precisa de um PT para chamar de seu na capital de São Paulo. Este não é o caso de Marta Suplicy, considerada independente demais. Em 2006 o ex-presidente jogou todas as fichas na candidatura ao governo estadual de Aloizio Mercadante, atual ministro da Ciência e Tecnologia, para o governo do Estado. A adversária de Mercadante à indicação do PT era Marta.
Para 2014, o nome cultivado por Lula para o Palácio dos Bandeirantes é Luiz Marinho, atual prefeito de São Bernardo e afilhado político do ex-presidente desde a época sindical - Marinho foi o sucessor de Lula na presidência da CUT. Com um aliado na prefeitura, Lula terá percorrido mais da metade do percurso necessário para emplacar um candidato a seu gosto para o Palácio dos Bandeirantes. Outra opção é Mercadante, que ontem abandonou a disputa municipal mas se considera no páreo para 2014.
Deputados ligados a Marta acham que o pior cenário para Lula, em 2014, é um prefeito do PT independente em São Paulo, como seria a eleição da ex-prefeita. Até mesmo para a hipótese de ele vir a ser o candidato do PT às eleições presidenciais de 2014, insinuação que o ex-presidente tentou afastar na reunião do congresso petista, mas sem muito êxito.
A pergunta que se faz é: e se Dilma estiver bem no governo, o que é esperado diante das perspectivas de desempenho econômico do país? Por mais modesto que seja o crescimento, o cenário atual é que o país estará melhor que Europa e EUA. Neste caso, o ex-presidente não terá o discurso, mas sempre terá o PT, e a maioria dos aliados que hoje se encontram na condição de "viúvas do Lula". Se Dilma estiver mal, sabe-se que há setores dos movimentos sociais prontos para colocar na rua a campanha "Volta, Lula". O ex-presidente só precisaria estalar os dedos.
No PT há quem esteja desconfiado da existência de uma combinação entre Lula e Dilma a respeito a sucessão, pela qual Lula seria o candidato em 2014. No grupo sindicalista mais próximo de Lula afirma-se que não há nada no atual governo feito em desentendimento entre Lula e Dilma. Até a aproximação com Fernando Henrique Cardoso teria sido feita de comum acordo. Uns poucos privilegiados que tiveram a oportunidade de ouvir o assunto ser comentado na frente de Dilma afirmam que ela apenas dá a entender que não existe combinação.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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