Depois de passar todo o ano passado sustentando que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceria em torno de 5%, o ministro Mantega finalmente anuncia seu efetivo crescimento, 2,7%. Entre a fantasia de um crescimento robusto e a realidade de um crescimento pífio, uma miríade de explicações, a última das quais, da lavra da própria presidente Dilma, culpando as nações europeias pelo "tsunami de dólares" jogados na economia mundial, impactando negativamente os países "emergentes".
Nada mais longe da verdade! A queda do nosso PIB deve ser buscada, fundamentalmente, nas causas internas que têm obstaculizado um processo de desenvolvimento econômico sustentado.
A começar pelo baixíssimo nível de investimento registrado no ano passado. O investimento cresceu 4,7% em 2011, muito abaixo da alta de 21,3% em 2010. A verdade é que houve uma importante desaceleração dos investimentos ao longo de 2011, saindo de 8,8% no primeiro trimestre (comparado a igual período do ano anterior) para 2% no quarto.
Outro aspecto sempre salientado pela ampla maioria dos economistas refere-se a nossa taxa de juro, uma das maiores do planeta, que encarece os investimentos produtivos, alimenta a especulação por conta da rolagem dos títulos da dívida do governo, e alimenta nossa desvantagem cambial, frente as outras economias, mormente as mais desenvolvidas, cuja taxa de juro flutua em torno de zero a dois por cento.
Uma das consequências nefastas mais visíveis desse fato pode ser constatada no desempenho de nossa indústria, que cresceu apenas 1,6% em 2011. Pior ainda, a indústria da transformação (que exclui a mineração e os serviços de utilidade pública) ficou parada, com expansão de apenas 0,1% em 2011, pior desempenho entre os 13 subsetores do PIB. Ou seja, segundo dados do IBG, por esses números a indústria da transformação ainda está no mesmo nível de produção do terceiro trimestre de 2007.
A performance de nossa indústria foi particularmente ruim no último trimestre, com queda de 2,5% ante o anterior, na série dessazonalizada, e de 3,1% ante o último trimestre de 2010.
Foram os piores resultados desde 2009. Nesta semana também foi divulgada nova queda na produção industrial de 2,1% em janeiro de 2012 em relação a dezembro de 2011, ou seja, a tendência de queda se mantém.
Não fosse o agronegócio, que cresceu consistentes 3,9%, com destaques para algodão, fumo, arroz, soja e mandioca, com alta na produção e na produtividade, o resultado do PIB seria ainda pior. Os serviços, que representam 67% da economia, cresceram 2,7% em 2011, expansão idêntica à do PIB.
Fica claro, então, sem desconhecer a profundidade da crise financeira internacional, mormente na zona do euro, nossos reais problemas dizem respeito ao "custo Brasil", que paulatinamente tem deixado nossa indústria cada vez menos competitiva, ante os demais países emergentes, e ao atraso das reformas estruturais, que tanto o governo de Lula, como o de Dilma mostram-se incapazes de fazê-las, presos que estão na política rala dos compromissos do varejo, junto aos partidos de sua base de sustentação.
Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente do PPS
FONTE: BRASIL ECONÔMICO
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