Apesar de novas quedas de juros, técnicos do governo admitem que resultado ficará abaixo da meta de 4,5% de Dilma
Martha Beck
BRASÍLIA. Ao mexer na remuneração da caderneta de poupança, a presidente Dilma Rousseff pode ter tirado o maior entrave que existia para a queda das taxas de juros no Brasil. A estratégia, no entanto, não será suficiente para fazer a economia crescer os 4,5% que Dilma quer este ano. Mesmo que agora o Banco Central (BC) possa reduzir a taxa básica de juros da economia para um percentual inferior a 8,5% - patamar fixado como limite para as mudanças na correção da caderneta - o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não terá uma alta maior que 3% ou 3,5% em 2012, avaliam técnicos do governo.
- Taxa de crescimento do ano já está dada - diz uma fonte.
Os reflexos da queda dos juros na economia só aparecem num prazo mais longo, em torno de 12 meses. Mesmo assim, a presidente continua pressionando sua equipe a trabalhar para incentivar a atividade por meio do aumento da oferta de crédito e do consumo.
Por isso, a equipe econômica tem como missão levar adiante uma agenda para estimular a renegociação de financiamentos de clientes com bancos (inclusive em contratos habitacionais) de forma que esses empréstimos se tornem mais baratos.
Renegociar dívidas em atraso está em estudo no governo
O governo pode criar uma espécie de ranking de juros e de tarifas que permita aos clientes monitorarem constantemente onde buscar melhores condições para seu financiamento. Também pode passar permitir a cobrança de algum pedágio de quem quiser migrar seu contrato de instituição, especialmente se ele estiver no início do prazo.
O governo também continua cobrando das instituições privadas a redução do spread (diferença entre o que o banco paga para captar dinheiro e o que ele cobra do cliente) e estudando medidas que permitam essa queda, como ajustes na implementação do cadastro positivo. Nesse caso, os técnicos avaliam, por exemplo, a possibilidade de permitir uma única autorização do correntista para o uso das informações do banco de dados.
Outra proposta é facilitar a renegociação de dívidas atrasadas, com o parcelamento dos impostos incidentes na operação. Hoje, essa possibilidade já existe para pessoas físicas, com dívidas abaixo de R$ 30 mil e crédito agrícola. A permissão para que pequenas e médias empresas possam oferecer recebíveis (contratos pelo fornecimento de bens ou prestação de serviços) como garantias de crédito também são propostas que têm o aval da área técnica.
A equipe econômica defende essa agenda para que a presidente consiga terminar o mandato com crescimento de 5%. As ações são todas para que os juros continuem caindo. Na avaliação de uma fonte, as mudanças na poupança vão permitir que "a Selic caia de elevador".
De acordo com o relatório de conjuntura da consultoria LCA, a economia brasileira deve crescer apenas 0,5% no primeiro trimestre de 2012 em relação aos três meses anteriores. Mas para chegar aos 4,5% desejados, o número deveria estar acima de 1%. Segundo a LCA, a partir do segundo semestre, a atividade "deverá apresentar recuperação mais consistente (ainda que gradual), sobretudo quando se fizerem sentir plenamente os efeitos sobre a atividade econômica da redução acumulada da Selic".
Também contribuirão para esse quadro, a desvalorização da taxa de câmbio doméstica e os incentivos concedidos pela segunda etapa do programa Brasil Maior. Entre eles, está a desoneração da folha de pagamento de 14 setores da indústria.
Fonte: O Globo
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