Crise atual dá força à teoria segundo a qual
crescimento rápido é exceção, não regra na experiência humana
Ou será neopessimismo? O fato é que, no bojo desta
crise interminável, ganham ar de verossimilhança as previsões de que o
crescimento rápido é mais uma exceção do que regra na experiência humana.
Contrariando a crença dos iluministas num progresso
infinito e eterno, os dias felizes da expansão acelerada não voltariam mais.
Houve uma onda parecida logo após os choques do petróleo
que puseram fim aos "30 anos gloriosos" depois da Segunda Guerra
Mundial. O retorno da estagnação e a instalação na Europa do desemprego
estrutural alimentaram então especulações sombrias sobre o futuro.
A fase coincidiu, não por acaso, com os chamados
"anos de chumbo" do terrorismo europeu. Escrevendo nessa época,
Fernand Braudel se perguntava em "Le Temps du Monde" se o primeiro
choque petrolífero (1973) não marcaria o início da longa descida de um dos seus
ciclos seculares de expansão.
Passada a ascensão, iniciada em 1896, o ciclo
declinaria por umas duas gerações até atingir o fundo do poço, mais ou menos
meio século a partir de 1973.
O que não se imaginou, foi o impacto que teria o
vertiginoso crescimento da China por mais de 25 anos e o efeito dinamizador
trazido pela revolução dos computadores, das telecomunicações e da internet.
Tampouco se calculou, no lado negativo, o
agravamento dos limites ocasionados pelo aquecimento global, subestimando-se
igualmente a perda de dinamismo consequente ao colapso da demografia e o
envelhecimento da população.
Dos estudos recentes, o que mais faz pensar é
"Is U.S. Economic Growth Over?", do professor Robert J. Gordon, que
pode ser facilmente acessado na internet. A primeira versão é de 2006, não
sendo assim produto da crise financeira.
O autor estabelece vínculos entre períodos de
expansão rápida e as inovações características das três revoluções industriais:
1ª) a das ferrovias, vapores e indústria têxtil, de 1750 a 1830; 2ª) a da
eletricidade, motor de explosão, água encanada, banheiros e aquecimento dentro
de casa, petróleo, farmacêuticos, plásticos, telefone, de 1870 a 1900; 3ª) a
dos computadores, internet, celulares, de 1960 até hoje.
A segunda teria tido importância superior às
outras, garantindo 80 anos de acelerado avanço na produtividade. Desta vez
Gordon receia que os Estados Unidos não sejam capazes de aproveitar o impulso
de futuras inovações devido a seis problemas graves: demografia, desigualdade,
educação deteriorada, obstáculos ambientais, competição da globalização e o
peso da dívida dos particulares e do governo.
O autor se limitou aos EUA e convidou estudiosos a
compararem os resultados com suas experiências nacionais. No caso do Brasil, é
óbvio que só agora a maioria da população começa a ter acesso às inovações da
segunda e terceira revoluções industriais. Só isso nos garantiria boas décadas
de expansão.
Por outro lado, muitos dos obstáculos dos EUA nos
afetam de modo agudo. Sem falar em educação, desigualdade ou competitividade,
basta lembrar que o envelhecimento da população será aqui mais fulminante não
só que nos EUA, mas até na Argentina e no Uruguai!
Fonte: Folha de S. Paulo
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