A presidente Dilma Rousseff atolou na resposta ao
semanário britânico "The Economist", que na última edição pediu a
cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Revista estrangeira não
influencia o governo eleito pela população brasileira, parece ter dito a
mandatária, em fraseado confuso.
Além de ter mobilizado o velho repertório do
nacionalismo bravateiro para contrapor-se a uma simples opinião, Dilma tentou
atingir a revista criticando o desempenho da economia na Europa. Como se a
"Economist" fosse o órgão central de propaganda da União Europeia.
Esse pequeno vexame foi manifestação eloquente da
falta de traquejo com o contraditório por parte da presidente da quarta maior
democracia mundial. Como se diz popularmente, o uso prolongado do cachimbo
entorta a boca.
Na primeira metade do mandato, Dilma Rousseff
expôs-se pouquíssimas vezes a entrevistas com a imprensa, quer individuais,
quer coletivas. Sob a batuta dos marqueteiros que administram a imagem
presidencial, permanece tempo demais cercada de bajuladores e de gente incapaz
de questionar suas decisões.
Daí o despreparo para enfrentar a crítica -e para
entender que ela é da natureza do jogo democrático.
O hiperpresidencialismo brasileiro do século 21
avança pouco, para não dizer que retrocede, nesse aspecto. A palavra do chefe
de Estado surge quase como uma graça a ser oferecida com parcimônia e
benevolência aos súditos -de preferência em ambientes controlados, onde o
presidente discursa, mas não dialoga.
Era de esperar o contrário. Prestar contas é uma
obrigação do governante, a quem foi concedido o mandato popular, e um direito
da sociedade, que o concedeu. Parte dessa prestação de contas precisa ser feita
no entrechoque com perguntas críticas às decisões, aos resultados e aos rumos
do governo. Do contrário, será mera propaganda.
Fonte: Folha de S. Paulo
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