2014 chegou antes de 2013. Desde a semana passada, a sucessão de Dilma
Rousseff (PT) virou prato principal e é improvável que o cardápio mude pelos próximos
dois anos. O molho varia do explícito (o lançamento do presidenciável Aécio Neves
pelo PSDB) ao subentendido (a polêmica do pibinho), passando pelo trágico
(ascensão e queda do baixo clero da corrupção petista) e o cômico (revista
inglesa pedindo cabeça de ministro no Brasil).
A economia - que elegeu FHC, Lula e Dilma - é o ingrediente principal do
debate, novamente. A pegadinha é que o gosto popular está cada vez mais
distante do palato dos críticos. As diferenças de percepção são tão distintas
quanto seus instrumentos
; de medida. A confiança do consumidor dá picos enquanto as aferições do
PIB afundam. Investimentos param ao mesmo tempo que o crédito dispara.
Para cada indicador negativo há um positivo e vice-versa. Depende do gosto
do freguês. A produção de automóveis caiu pela primeira vez desde 2002? Mas a
taxa nacional de desemprego é a mais baixa desde muito antes disso. Os
salários brasileiros crescem duas vezes mais do que a média mundial? Mas o
capital estrangeiro foge do Brasil para índia, China ou aonde seja.
Economistas dizem que os indicadores positivos refletem o passado e os
negativos, o futuro. Eles devem ter razão, como tiveram ao prever 10 das últimas
3 recessões.
A piada é gasta porque não há outro ramo de atividade no qual projetar impunemente
dê tanto prestígio e dinheiro quanto a economia. Entre 2000 e 2010, as
previsões de crescimento do PIB feitas pelo mercado (e publicadas pelo boletim
Focus do Banco Central) tiveram um erro médio de mais de 50%. Nove em 10 erraram.
Guido Mantega está em linha com seus pares.
Probabilisticamente, se Dilma atendesse a The Economist e decapitasse o
ministro da Fazenda, a presidente teria 90% de chance de trocar seis por meia
dúzia.
O que tanto mudou desde 2010, quando a revista inglesa enfiou um foguete
sob o Cristo Redentor, até a publicação do obituário do PIB brasileiro na
semana passada? Foi o PIB ou seu parâmetro de comparação? A bipolaridade
eufórico-depressiva parece estar tanto nos olhos de quem vê quanto no objeto da
observação.
Aos redatores ingleses resta citar a tirada célebre: "Quando os fatos
mudam, eu mudo minha cabeça, o senhor não?" A frase é ora atribuída a
John Maynard Keynes, ora a John Kenneth Galbraith. Importa menos o nome do que
o fato de que o autor é economista.
Economia eleitoral
Nada se correlaciona mais à popularidade presidencial do que a confiança do
consumidor. Ambas estão ascendentes, apesar do pibinho. Como pode ser? Porque
o consumidor avalia que sua situação financeira está melhor do que há seis
meses, e acha que vai melhorar ainda mais no futuro próximo - puxada por
emprego e salários em alta. É portanto um jogo de percepção e expectativa.
O PIB vai seguir a confiança do consumidor, como quer o governo, ou o
consumidor vai acabar se convencendo de que o melhor já passou e trocar de
canoa, como sonha a oposição? As i expectativas são, em boa parte,
autor-realizáveis. Portanto, vencer a batalha de versões sobre a economia é
começar bem a guerra sucessória.
Chefe do PSB, Eduardo Campos se antecipou dizendo a empresários descontentes
com a economia que falta rumo estratégico ao país - implícita é sua oferta por
nova bússola. Campos morde e assopra. Pode ser o "tertius" que
forçaria um segundo turno em 2014, ou o aliado que facilitaria a "eventual
reeleição de Dilma. Tudo depende das circunstâncias, ou seja, da economia.
O lançamento de Aécio foi quase um empurrão. Fernando Henrique Cardoso jogou
o senador mineiro na arena. Aécio gaguejou, mas não tem opção. Se não mostrar
gana para ser candidato agora, quando o PSDB não tem alternativas, vai perder
o trem da história. Não assumiu o discurso, mas já age como candidato.
A redução das tarifas de energia elétrica é um ato de campanha de Dilma pela
reeleição. Ao gorarem o plano presidencial, as concessionárias geridas por
governadores tucanos defenderam o interesse de seus donos mas alimentaram o
discurso petista de que o PSDB é demofóbico quando se trata de economia popular.
2014 já começou, mas passa pela economia de 2013.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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