Não chega a ser uma surpresa que Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, a exemplo de outros dirigentes populistas, tente esconder a incompetência econômica de seu governo investindo contra os que chama de "parasitas capitalistas" e adotando medidas que vão do controle de preços à expropriação dos estoques. O espantoso é que truques assim, dos quais tanto se abusou no passado, ainda sejam capazes de enganar, mesmo que momentaneamente, a população.
O problema de fundo é que não lidamos bem com a economia de mercado. Nossos cérebros da Idade da Pedra não têm dificuldade para perceber que um agricultor ou um artesão produzem valor. Eles, afinal, transformam sementes e matérias-primas em colheitas e produtos úteis. O mesmo raciocínio, porém, não se aplica a comerciantes e outros intermediários. Por alguma razão, não vemos sua atividade de logística como "produtiva" e os chamamos pejorativamente de "atravessadores".
Ainda que tenhamos dificuldades para evitá-lo, não faz sentido buscar noções metafísicas de justiça em operações econômicas e menos ainda atribuir-lhes caráter moral. Se há justificação para o mercado, ela está na maior eficácia que esse sistema imprime à produção de bens e em sua capacidade de promover inovações.
Receitas populistas como as adotadas por Maduro conseguem a um só tempo bloquear o lado positivo do capitalismo sem nem chegar perto de resolver os problemas sociais e ecológicos que ele engendra.
Em nanoescala, algo parecido vale para o Brasil. É verdade que, desde os fiscais do Sarney nos anos 80, não vemos mais espetáculos como os que ocorrem na Venezuela, mas me parece um erro grave a tentativa do governo Dilma Rousseff de conter a escalada de preços represando reajustes de combustíveis. O efeito dessa política é pífio sobre o controle da inflação, mas tende a ser devastador para a saúde da Petrobras.
Fonte: Folha de S. Paulo
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