- O Estado de S. Paulo
O populismo se serve da característica de uma população de atribuir ao Estado todas as mazelas que contribuem para seu maior ou menor sucesso pessoal e profissional. Ante os revezes, culpar o Estado aplaca a consciência, terceiriza a culpa e cria o atalho para a figura do salvador da pátria.
O Brasil tem sido vítima desse processo em ciclos raramente interrompidos, que retornam mais fortes, como a bactéria resistente ao antibiótico. Governos que se entregam à reconstrução dos efeitos populistas têm contra si o tempo de maturação das mudanças que, às vezes, aultrapassam gerações.
Transformações econômicas e educacionais, entre outras, impõem prazo para a produção de resultados, nunca inferiores a uma década, o que é exasperante para o contribuinte que clama por soluções imediatas e não percebe na falta de continuidade dos governos a fonte dos problemas.
É uma chaga que conspira contra gestões planejadas, de resultados a médio e longo prazos, impondo aos gestores conscientes o ônus do convencimento geral de que o mais demorado e bem feito é melhor que o barato que sai caro.
O imediatismo de resultados favorece a política do curto prazo que pode manter um governo forte popularmente à base de assistencialismo e discurso, sem gestão qualquer, até que a economia acuse seu esgotamento.
Qualquer semelhança com o governo do PT em seus suspiros finais, não é mera coincidencia. Lula se beneficiou dos efeitos do plano de estabilização de seu antecessor, manteve-o, e, com ele, pôde ampliar os programas sociais, dos quais também não teve a iniciativa, apenas a continuidade.
Mas, pelo menos, manteve em seus oito anos o compromisso com a estabilidade econômica, entregando o comando da economia a perfis que a garantiram, na Fazenda e no Banco Central, contra a vontade do PT, que teve de esperar por Dilma Rousseff para concretizar a imolação do modelo vitorioso.
Ao resultado desastroso desse comportamento, somou-se a colheita da omissão do governo Lula nas áreas de infraestrutura, Saúde, Educação e Segurança, que representam hoje a demanda da população por mudanças.
Aqui vale o parêntese: Lula exerceu o populismo em grau tão explícito que não hesitou em criticar o governo que ele mesmo representava, em diversas ocasiões. Como agora repete Dilma, atribuindo aos antecessores a culpa pelos problemas de gestão, contando com a desimportância do eleitor para com o fato de que o governo é do PT há 10 anos.
Viveu-se uma década de discurso e distribuição farta de direitos civis já garantidos pela Constituição de 88, cuja aplicação não depende de mais legislação, mas de eficiência gestora. Talvez tenha sido o único governo a desfrutar de prazo e otimismo da população para concluir um modelo que recebeu iniciado, testado e aprovado, como mostram as duas eleições do PSDB no primeiro turno.
Uma década também de fartura para o PT a confirmar o dito popular seguno o qual “quem nunca come mel quando come se lambuza”. Um tempo de deterioração do capital político do partido, cuja trajetória no poder levou à cadeia seus dirigentes históricos mais emblemáticos.
Sem biografia partidária no PT, mas eleita por ele, a presidente Dilma Rousseff tentou em vão sugerir a existência de um distanciamento entre ela e o partido, mas o marketing era falso como as declarações ciclícas de reconhecimento ao mercado , o que manteve a desconfiança deste.
No plano ideológico Dilma aplicou ao país aquilo que o PT quis desde o primeiro momento, mas que a Carta aos Brasileiros inviabilizara. Pregou desenvolvimento acima da inflação, privatização a taxas cubanas de lucro, ou seja, zero, e intervenção na economia. Colheu a recessão que hoje desfaz o sonho da reeleição.
É nesse contexto que tenta durar na campanha em segundo lugar, vendendo um país maravilhoso no plano cinematográfico, como registrou sua nova adversária, Marina Silva, no primeiro debate dos presidenciáveis realizado pela TV Bandeirantes.
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