Por Raphael Di Cunto e Andrea Jubé - Valor Econômico
BRASÍLIA - Receoso da reação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o governo trabalhou para evitar adesão maior do PT à nota de parlamentares pelo afastamento do pemedebista do comando da Casa em decorrência da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de que Cunha recebeu propina de contratos na Petrobras.
A avaliação feita pelo grupo majoritário do PT e do governo é de que a estratégia de cobrar o afastamento de Cunha, além de ser contraditória com a defesa que os petistas fazem de seus próprios acusados, tende ao fracasso e a agravar o isolamento político do Palácio do Planalto na Câmara. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um dos que prega "cautela" com a situação.
O pemedebista mantém apoio no plenário, na oposição e no PMDB. Apenas 35 deputados assinaram um manifesto contra Cunha, menos de 7% da casa, mas 18 deles são do PT. Para dois petistas com influência na Casa, sem apoio dos demais partidos, a cobrança para que Cunha se afastasse dificilmente teria efeito prático e só isolaria ainda mais o PT, já de fora das principais funções da Câmara. E, como resposta, ele reforçaria a agenda negativa para o governo, com mais perda da credibilidade e efeitos na economia.
Mesmo que a estratégia tivesse sucesso, a saída de Cunha poderia piorar a situação, avaliam. O Planalto não tem base suficiente para vencer uma eleição na Câmara e o novo presidente seria do grupo que alçou Cunha ao poder. Apeado do cargo pelo PT, o pemedebista trabalhar ainda mais intensamente pelo rompimento do PMDB com o governo.
Essa tese só não encontra respaldo nos deputados do PT que compõe a Mensagem ao Partido, do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "Ele [Cunha] tem retaliado o governo o máximo que pode. A única coisa que freia a postura dele é a pressão da sociedade contra certas pautas", afirma o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Fontana é um dos 35 signatários de nota divulgada ontem para pedir o afastamento do presidente da Câmara. Além dos petistas, o manifesto incluiu deputados de outros oito partidos, sendo seis do PSB e quatro do PSOL. Do PMDB, apenas Jarbas Vasconcelos (PE) assinou o texto.
O documento já tinha sido divulgado na semana passada, mas, como a denúncia contra Cunha ocorreu no meio da tarde de quinta-feira, a maioria dos deputados já estava em seus Estados e a nota saiu sem o nome dos apoiadores. De lá para cá, os parlamentares do PDT que assinariam o texto recuaram e o governo convenceu PCdoB e parte do PT a não subscreverem.
Segundo relatos, o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), articulou a retirada de assinaturas da base aliada e da corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB). Uma das que convencidas foi a deputada Ana Perugini (PT-SP). "Revi minha posição e não vejo desvalor ou problema algum nisso", disse ela em nota.
Integrantes da Mensagem, o vice-líder do governo, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), e o líder do governo na Comissão Mista de Orçamento (CMO), Paulo Pimenta (PT-RS), defenderam internamente o afastamento de Cunha, mas desistiram de assinar a nota. Enquanto corriam as notícias da denúncia, a presidente Dilma Rousseff recebeu dois ex-presidentes da Câmara fora da agenda oficial, Marco Maia (PT-RS) e Arlindo Chinaglia (PT-SP).
O Valor apurou que Cardozo ficou encarregado de convencer deputados da Mensagem, como Alessandro Molon (RJ), a recuarem da nota, e Aloizio Mercadante (Casa Civil), ligou para Fontana - que nega o contato. "Todo mundo sabia que eu faria esse movimento, talvez até por isso não tenha sido procurado", disse Fontana.
A mobilização do Planalto começou já no dia seguinte à denúncia, quando o presidente do PT, Rui Falcão, disse que a acusação era "gravíssima" e que o partido se reuniria em três dias para discutir o que fazer. Cunha procurou o vice-presidente Michel Temer (PMDB) no mesmo dia e exigiu uma "resposta partidária" à ação do PT. À noite, o líder do PT, Sibá Machado, avisou que o encontro estava cancelado.
Aliados a Cunha na Câmara para aumentar o desgaste do governo, os principais partidos de oposição também não cobraram a saída. Apenas dois deputados do PPS subscreveram a nota, mas o presidente da legenda, deputado Roberto Freire (SP), foi um dos primeiros a divulgar texto em defesa de Cunha. PSDB e DEM, que têm cobrado a saída de Dilma, também não assinaram a carta.
Sem força, o grupo aguarda agora a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para endurecer a pressão contra o pemedebista. "Muitos disseram que vão apoiar quando o Supremo aceitar a denúncia. Mas [35 apoiadores] é até muito, perto da chantagem e pressão para que não assinassem", afirma o líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ). A decisão do STF, porém, depende de um julgamento que envolve os 11 ministros do tribunal.
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