A mais recente pesquisa Datafolha mostra que a retomada da confiança na economia não se restringe aos agentes econômicos, mas já se dissemina pela população como um todo, apesar de a maioria também reconhecer que ainda estamos no pior momento de uma gravíssima recessão.
O governo de Michel Temer (PMDB) aparece com aprovação tão escassa quanto a da última avaliação da presidente Dilma Rousseff (PT) antes de ser afastada (14% a 13%), mas sua reprovação, de 31%, é menos que a metade da votada à antecessora, 65%. Ampla parcela, 42%, ao definir a gestão até agora interina como regular, sugere uma atitude de compasso de espera.
A origem do governo Temer foi atribulada. Embora sobrassem motivos de interesse público para o impeachment, faltava um delito insofismável; as pedaladas fiscais pareceram a muitos tecnicalidade invocada como mero pretexto. A pesquisa divulgada neste domingo pela Folha evidencia que cerca de um terço da população continua a negar legitimidade ao processo que gerou o novo governo.
Ainda assim, ele vem exercendo um efeito estabilizador, condição necessária para o país emergir desta crise profunda e multifacetada.
Pelo lado econômico, uma equipe coesa e prestigiosa se mostra disposta a tomar as medidas necessárias para restaurar confiança, com respaldo do presidente para propor um mecanismo de contenção de gastos a longo prazo e ampliar o financiamento da previdência social.
Pelo lado político, embora tenha perdido três ministros que se viram envolvidos em acusações de natureza judicial, o Planalto dá mostras de que seu esquema semiparlamentarista pode funcionar, tendo por base as votações, como a da prorrogação da desvinculação de receitas (DRU), em que obteve maioria folgada para aprovar emendas constitucionais.
A recente eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidir a Câmara dos Deputados até o final de janeiro próximo integra esse quadro de normalização. Supera-se o delirante interregno em que reinou o trêfego Eduardo Cunha, substituído por um parlamentar tido como equilibrado e sensível à necessidade de aprovar reformas que destravem as forças produtivas.
O próprio afastamento definitivo da presidente ora suspensa, caso se confirme em agosto, como parece provável, deverá conferir nova desenvoltura ao governo, fortalecido pela condição duradoura. Seus problemas, então, mal terão começado, mas o início aziago terá sido deixado para trás e um misto de sorte, habilidade e esgotamento da crise pode anunciar um futuro mais promissor.
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