Delações sem demora
• Executivos da Odebrecht já depõem na próxima semana; Emílio comandará reestruturação da empresa
Carolina Brígido, Jailton de Carvalho e Chico Otavio - O Globo
BRASÍLIA E RIO - Os primeiros depoimentos dos executivos da Odebrecht que assinaram os acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal devem ocorrer na próxima semana. Eles deverão ser interrogados em Brasília, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e outras cidades onde residem. Pelos acordos com a Procuradoria-Geral da República, todos deverão relatar detalhes das denúncias que se comprometeram a fazer na etapa de negociação das delações. Em muitos casos, terão que apresentar cópias de extratos bancários, e-mails, mensagens, entre outros documentos, que comprovem os crimes delatados.
Segundo uma fonte com acesso às negociações, as provas apresentadas pelos executivos são robustas. Eles registraram boa parte da movimentação que faziam para obter contratos na Petrobras e em outras áreas da administração. O banco de dados do setor de operações estruturadas, área criada pela empreiteira para facilitar o pagamento de propina, segundo a fonte, contém provas cabais de transações ilegais entre a Odebrecht e grande número de políticos. Depois de certa resistência no início, executivos concordaram em abrir parte dos sistemas à Lava-Jato.
A quebra das senhas do setor de operações estruturadas foi um dos momentos decisivos para o avanço das negociações dos acordos. Outra parte do banco de dados do departamento da propina, no entanto, ainda estava inacessível até recentemente. Os operadores do esquema teriam perdido ou desaparecido com as senhas. Uma das hipóteses aventadas durante as negociações era que, se necessário, seria buscado apoio externo para recuperar arquivos criptografados.
PLANO DE SOBREVIVÊNCIA
Com a assinatura dos acordos de delação de 77 executivos e com o acordo de leniência com o MPF, a Odebrecht espera ter dado o primeiro passo para a “virada de página” prometida por Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração, em comunicado aos funcionários. Nos planos para sobreviver, a empresa está se desfazendo de ativos, aposta em aumentar a carteira de contratos internacionais e consolida uma parceria com o governo chinês, iniciada com um protocolo de intenções para a construção de ferrovia no Peru.
Para atingir os objetivos, abrindo novos canteiros de obras no exterior, a empresa precisará ter a ficha limpa. Emílio admitiu que a Odebrecht sairá desta fase com “ativos e negócios menores”, mas garantiu que a empresa tem solidez suficiente para voltar a crescer. Depois de comandar as negociações das delações com os procuradores, à frente de um quartel-general montado num hotel de Brasília, Emílio agora promete conduzir pessoalmente o plano de reestruturação. Nos corredores da Odebrecht, os funcionários foram informados de que o acordo com a força-tarefa dará a Emílio um ano para cuidar dessa reestruturação. Depois, ele terá de cumprir um ano e meio de prisão domiciliar.
O colunista Lauro Jardim informou em seu blog que Paulo Cesena, presidente da Odebrecht Transport, o braço da empresa para o setor de transportes e mobilidade urbana, afirmou no acordo de delação que houve repasse de dinheiro para o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário do Programa de Parcerias de Investimento, Moreira Franco, em troca de que pleitos da Odebrecht na Secretaria de Aviação Civil fossem atendidos. Padilha e Moreira, segundo Cesena, teriam pedido o dinheiro em nome do PMDB.
Emílio Odebrecht não fará toda a reestruturação sozinho. Ele já chamou de volta a velha guarda que trabalhou com ele antes da chegada do filho, Marcelo, à presidência da empresa. São considerados imprescindíveis para Emílio os executivos Pedro Novis, Renato Baiard, Luiz Villar, Gilberto Sá e Paul Altit.
Com Emílio no comando, reaparece também a TEO (tecnologia empresarial Odebrecht), linha de ação implantada pelo veterano empreiteiro, que preconizava a descentralização. Velhos dirigentes, afastados durante a gestão de Marcelo, criticam o filho de Emílio por ter sido centralizador. A Marcelo é atribuída, por exemplo, a criação do setor de operações estruturadas, de onde o filho de Emílio tocava, ao lado do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior, um esquema de pagamento de propina para políticos e gestores públicos.
Convencida de que encolherá no Brasil, a Odebrecht olha além das fronteiras. Um dos primeiros objetivos é concretizar o namoro com o governo chinês para a construção de ferrovia que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico, atravessando o Peru. O enxugamento iniciado pela empresa já vitimou a Foz do Brasil (antiga Odebrecht Ambiental) e a Odebrecht Properties, que cuidava das concessões dos estádios Maracanã, Itaquerão (SP) e Fonte Nova (Bahia), abandonadas por darem prejuízo. Emílio também determinou a desativação temporária da Odebrecht Realizações Imobiliárias (ORI), que fechará definitivamente se o mercado não aquecer.
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