• Senadores tucanos levarão a Temer propostas de empresários
Júnia Gama, Martha Beck - O Globo
BRASÍLIA - Preocupado com o fraco desempenho da economia, reforçado pela queda de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, o presidente Michel Temer iniciou esta semana a primeira rodada de reuniões com integrantes de PSDB e outros partidos da base para discutir saídas para a retomada do crescimento. Conselheiros de Temer têm defendido que o governo tome logo medidas de estímulo à economia. Como há poucas cartas na manga, a ala política no PMDB insiste no uso dos compulsórios (depósitos que os bancos são obrigados a fazer no Banco Central), algo que não tem o respaldo do PSDB.
Para os tucanos, é hora de ações específicas e direcionadas. Eles têm se reunido com setores do empresariado, especialmente de construção civil, imobiliário e infraestrutura, para ouvir propostas que pretendem levar a Temer e à sua equipe econômica.
Na última quinta-feira, estiveram com Temer os senadores tucanos José Aníbal (SP), Tasso Jereissati (CE) e Ricardo Ferraço (ES), além de Cristovam Buarque (PPS-DF) e Armando Monteiro (PTB-PE), que foi ministro de Dilma Rousseff. A eles, Temer disse acreditar que é preciso “mais ação”, além das medidas do ajuste, para a economia reagir.
— Herdamos uma devastação de contas, empresas, bancos, e temos agora uma correta centralidade no ajuste fiscal, mas é preciso um exercício permanente de procurar enxergar novas iniciativas, sem incentivos, sem invenções, dentro das regras, na área de regulamentação, que possam favorecer um pouco mais o investimento. O que queremos é gerar emprego — afirmou Temer aos presentes, segundo relatos.
Mas as medidas não envolverão dinheiro, conta José Aníbal:
— Há ideias do ponto de vista de regulação, questão fiscal das empresas e redirecionamento de investimentos. As empresas esquadrinham todas as possibilidades, mas nada que mexa com desoneração ou isenção. — disse. — Não queremos questões gerais, mas objetivas e pontuais.
PROTEÇÃO AOS CREDORES
Do outro lado, alguns peemedebistas sugerem que a liberação do compulsório poderia ser usada para alongar dívidas de empresas e pessoas físicas. Para eles, essa seria uma forma de proteger os bancos que são credores e que poderiam ser prejudicados pelo aumento da inadimplência.
A pressão por esse tipo de instrumento ficou mais forte após a divulgação do PIB. A queda de 0,8% em relação ao trimestre anterior foi a sétima seguida do indicador, a mais longa de toda a série histórica do IBGE. A área política alega que a equipe econômica obteve avanços em medidas estruturais — como a fixação de um teto para os gastos públicos —, mas que o “mundo real” corre o risco de prejudicar o otimismo que surgiu logo após o impeachment de Dilma, principal capital político de Temer.
Com algum estímulo ao crédito por meio do alongamento de dívidas, a sensação de piora na economia poderia ser mitigada. O uso direcionado do compulsório, alegam, não pressionaria a inflação nem obrigaria o BC a fazer operações compromissadas para enxugar a liquidez, o que poderia impactar a dívida bruta.
Mesmo assim, a resistência da equipe econômica é grande, que defende que o crescimento da economia tem de ser gradual.
— É importante que 2017 seja melhor que 2016 e assim por diante. Não estamos interessados em voos de galinha — afirmou um integrante da equipe.
A equipe econômica insiste que a recuperação virá não só do ajuste, mas de medidas regulatórias que estimulem investimentos em infraestrutura. E citam a Lei Geral da Telecomunicações, prestes a ser aprovada no Senado, que pode trazer aporte de R$ 34 bilhões à economia.
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