Por Andrea Jubé, Marcelo Ribeiro e Cristiano Zaia | Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto celebrou, com cautela, o placar de 296 votos que garantiu a aprovação da reforma trabalhista na Câmara. A avaliação é que a votação expressiva é apenas um ponto de partida para redobrar o trabalho pela aprovação da reforma da Previdência.
Foram contabilizadas 86 dissidências, que de um lado, mostram um número alto de insatisfeitos na base aliada. Em contrapartida, agora o governo sabe exatamente onde se localizam os focos de insatisfação e poderá atuar para debelá-los. Entre os recursos para isso, na semana que vem o governo começa a liberar emendas parlamentares relativas a 2016.
Nas palavras de um ministro com gabinete no Palácio, com a aprovação da reforma trabalhista, "o jogo está zerado". Segundo este auxiliar presidencial, os 296 votos creditados à reforma da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não revelam que a reforma previdenciária "tem os mesmos 296 votos". Contudo, permitiu ao governo atualizar o mapa da base aliada, de modo que os estrategistas da votação sabem exatamente onde atuar.
Na próxima semana, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, começa a chamar os deputados da base aliada para pagar emendas parlamentares relativas a restos a pagar de 2016, que estavam represados. "Não podíamos gastar toda a munição já desde março", exemplifica um assessor do presidente Temer.
"Os votos contrários à reforma trabalhista são sinais ótimos, mostram onde vamos trabalhar", diz o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), fiel escudeiro do Planalto e coordenador do governo na comissão especial da reforma previdenciária. Ele afirma que a votação na comissão está mantida para a próxima semana.
Ontem o presidente Michel Temer fez reuniões reservadas com ministros e alguns deputados da base aliada para trocar impressões sobre o resultado da votação. Ele pediu aos ministros que não deixem Brasília até a conclusão da votação das reformas nas duas Casas.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi - que é senador licenciado pelo PP do Mato Grosso - terá de adiar e abreviar uma viagem internacional que fará em maio para ficar em Brasília ajudando o governo na votação das reformas.
Inicialmente, Maggi partiria dia 7 de maio para uma viagem à Ásia e Europa com a intenção de reconquistar a confiança de países importadores de carne brasileira, diante dos efeitos da Operação Carne Fraca. O embarque de Maggi foi remarcado para 12 de maio. Já a volta está mantida para 24 de maio.
"O presidente Temer pediu para ficarmos em Brasília para ajudar com as reformas", disse o ministro. O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, também cancelou ontem viagens que faria nos próximos dias.
Líderes consultados pelo Valor afirmaram que o elevado índice de traições entre aliados incomodou o Planalto, que já teria ordenado, segundo eles, uma mudança de postura em relação aos dissidentes. A nova recomendação é que, para negociar votos, "a estratégia conciliadora perca espaço para uma abordagem mais agressiva".
Em outra frente, mais do que oferecer cargos em segundo e terceiro escalões, o governo pretende lembrar aos partidos que registraram mais dissidências na votação da reforma trabalhista que eles já possuem cargos e que, se continuarem traindo, podem perdê-los, afirmaram líderes de partidos da base.
"Após muito diálogo e concessões para aliados, o diagnóstico é preocupante. Chegou a hora de separar o joio do trigo para poder negociar com quem não vai recuar depois", afirmou um dos principais líderes do Congresso ao Valor PRO.
Um dos nomes mais importantes do PSDB do Senado afirmou ao Valor, sob condição de anonimato, que, entre os deputados tucanos devem haver pelo menos 20 votos contra a reforma da Previdência. Além disso, o senador do PSDB afirmou que vários parlamentares não têm escondido seu desejo de votar logo a previdência para mitigar as pressões populares que vem sofrendo em locais públicos.
Paralelamente, os líderes devem repassar informações, esclarecimentos e sanar dúvidas sobre o texto do relator Arthur Maia (PPS-BA) para os integrantes de suas bancadas, sob o argumento de "que nenhum aliado do governo poderá se respaldar em problemas de comunicação para justificar suas traições".
Considerado um dos principais aliados de Temer no Congresso e palpiteiro de mão cheia quando o quesito é projeção de votações importantes, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) minimizou as dissidências e atribuiu a vitória expressiva porém ainda longe do quorum qualificado à ausência de mais de 20 parlamentares da base de apoio ao governo no Congresso.
"Muitos deputados que vão votar conosco na Previdência estavam viajando. Alguns que eu conversei disseram que não apoiariam a trabalhista, mas que pretendem aprovar a previdenciária".
A oposição, por sua vez, pretende derrubar a reforma da Previdência "comendo pelas beiradas", afirmou o líder da minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). Para evitar que o governo consiga os 308 votos necessários para emplacar a reforma da Previdência, a oposição pretende fazer manifestações nas ruas para pressionar os parlamentares.
"A ofensiva da oposição será ir para as ruas. "Paralelamente, iremos conversar com os dissidentes. Nós queremos ter pelo menos 250 votos contrários", completou o petista.
De acordo com ele, o PSB, que registrou 16 traições em 30 votos, e o Solidariedade, que teve 8 dissidências em 13 votos, estão no radar dos opositores. "Pelo menos 2/3 do PSB votarão conosco contra a Previdência".
Na avaliação do líder da minoria, os deputados da base de apoio ao governo no Congresso que estão votando contra a pauta do governo estão percebendo que "o preço de aprovar as reformas é alto demais".
"Votar com Temer na reforma da Previdência é o abraço dos afogados, porque o governo já está afundado quando o assunto é opinião pública. Temer está encerrando a carreira política e não precisa mais de votos. Já os deputados precisam de votos em 2018 para continuar no Congresso", disse Guimarães.
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