Por Raymundo Costa e Cristiane Agostine | Valor Econômico
BRASÍLIA - Centrais sindicais e movimentos populares, apoiados por mais de 90 categorias profissionais, prometem para hoje a maior greve geral dos últimos 20 anos no país, com protestos previstos nos 26 Estados e no Distrito Federal contra as reformas trabalhista e da Previdência.
Na noite da quarta-feira, enquanto a Câmara dos Deputados iniciava o desmonte da CLT, não havia um único sindicalista em frente ao Congresso. Calcula-se que os sindicatos perderão mais de R$ 3 bilhões com as mudanças, mas eles preferiram apostar as fichas na greve geral, convenientemente convocada para a véspera do feriado prolongado.
A extensão do movimento hoje deve dar uma dimensão do grau de dificuldade do governo para aprovar as reformas. Se a mobilização for grande, será mais difícil reunir os 308 votos necessários para a reforma da Previdência.
A Câmara aprovou a reforma trabalhista com os votos de 296 deputados, o que indicaria que o governo está mais perto do que longe dos 308 votos. Mas não é possível concluir daí que a reforma previdenciária passará. Quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentou passar a idade mínima para a aposentadoria, perdeu por apenas um voto. Ter conseguido votar o projeto às vésperas da manifestação convocada pelas oposições foi, de toda forma, um indício positivo para o governo. Mais confortável para os deputados teria sido esperar para ver o grau de mobilização dos trabalhadores. Mas o Palácio do Planalto teve que se desdobrar para a votação, tanto que mandou três ministros de volta ao Congresso - dois deles de Pernambuco, Estado do semirrebelado PSB.
O Planalto também conta infiéis no PP e no PR e decidiu votar logo a reforma trabalhista justamente para mapear as feridas abertas na base aliada. A votação pode ter sido um bom parâmetro, a menos que os deputados tenham decidido colaborar com o governo na certeza de que a reforma trabalhista vá empacar no Senado. No entanto, em um Congresso integrado por 221 empresários, há uma identidade quase natural dos partidos aliados com as mudanças feitas na CLT. O dispositivo que permite que negociações trabalhistas possam prevalecer sobre a legislação foi aprovado por 289 deputados contra 177. A dúvida é se existirá a mesma cumplicidade em relação à Previdência.
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