Após a convenção que o elegeu presidente nacional do PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, terá de realizar duas difíceis missões: soldar as rachaduras do partido, dando-lhe coerência e propósitos, e conquistar posição de relevo entre os eleitores moderados, fechando espaço a qualquer outro candidato que possa concorrer na mesma faixa. Em 2006, Alckmin foi derrotado por Lula, quando não havia candidato do PMDB. Para ter chance agora, terá de atrair para seu lado parte do Centrão e cativar o Democratas, que não mais aceita ser acompanhante passivo de uma aliança que enfrenta o desgaste do tempo.
Alckmin sai em pior posição hoje do que em 2006, não apenas por sua posição nas pesquisas naquele ano e agora - está na faixa dos 8% -, mas porque o partido perdeu a identidade política que chegou a possuir sob Fernando Henrique na Presidência e cedeu demais em fisiologismo e ética.
O fato de Aécio Neves, ex-presidente do partido e quase vencedor da eleição de 2014, escapar por pouco de ser preso e ser alvo de várias denúncias na Lava-Jato, atingiu fortemente a imagem da legenda. O mensalão mineiro, a inacreditável lentidão com que andam as investigações sobre corrupção envolvendo próceres tucanos em São Paulo e o possível início de investigação contra Alckmin por receber dinheiro não declarado em campanha desaconselham qualquer artilharia pesada contra os adversários neste quesito.
Os tucanos perderam também substância e precisarão diferenciar-se do governo de Michel Temer, caso ele dê a luz a um candidato, sem ter ainda um discurso distinto. Chega a ser inacreditável que o PSDB se destaque pela resistência a apoiar a reforma previdenciária, bandeira da legenda desde sempre. Alckmin disse que é a favor de fechar questão a respeito, mas que serão as bancadas que decidirão, isto é, provavelmente tudo continuará como está. Um vexame político a céu aberto.
A indecisão, a marca registrada dos tucanos, cobra um preço maior nos momentos de crise. Fernando Henrique e outros caciques defenderam que o PSDB participasse do governo após o impeachment de Dilma Rousseff. Com a fatídica reunião entre Temer e Joesley Batista no Jaburu, divulgada em maio, os tucanos começaram a estimular, sem consenso, um desembarque. Alckmin disse que por ele o partido não teria dado a graça de indicar 4 ministros ao governo Temer mas, a crer por seu discurso na convenção da legenda, começa a engolir essas palavras e a tentar a reaproximação com o governo.
Por oportunismo ou cálculo político, uma fronteira porosa, o PSDB não respondeu à questão sobre se teria mais desgaste ou ganhos ficando ou deixando o governo Temer. Ficou com um pé em cada canoa, sem poder negar sua ajuda a uma administração impopular e sem colher dividendos, o que seria o caso se liderasse uma oposição crítica, distinta daquela do PT.
A posição dúbia do PSDB se complicou sobretudo diante do inesperado - o PMDB tirou do bolso um programa de reformas que nunca foi o seu e começou a executá-lo. Os tucanos estão ameaçados de perder o discurso econômico, tanto pela oposição à reforma da previdência como pelo fato de várias de suas bandeiras hoje serem agitadas pelo Planalto. Alckmin pode se ver em maus lençóis diante de uma candidatura reformista vinda do seio do governo, como a de Henrique Meirelles.
O governo Temer entrou na seara das privatizações e anunciou que deixará de ter posição majoritária na Eletrobras. Já os tucanos, e o próprio Alckmin em 2006, que se cobriu na campanha com um casaco repleto de slogan das estatais, esconderam durante as disputas eleitorais esse tema. E não é certo que voltem a agitá-la com convicção. Na convenção, Alckmin disse que pretende "tirar o peso desse Estado ineficiente das costas dos trabalhadores" e "modernizar o Brasil" - com um "Brasil desburocratizado". É até agora o máximo que se viu, enquanto economistas tradicionais do partido vão buscar outros ares em novas forças políticas.
Com o segundo maior número de prefeituras, atrás do PMDB, o governo de 6 Estados e o maior fundo partidário (em 2016), o PSDB tem seus trunfos, embora lhe falte o principal, rumo. Se Lula se mantiver na disputa, não há espaço para dois candidatos de centro, e o governo Temer pode vir a apoiar Alckmin se ele estiver bem colocado nas pesquisas ao fim do primeiro trimestre de 2018. Sem Lula no páreo, a história das alianças é bem outra, assim como a das eleições.
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