- O Globo
Temer está trabalhando com a ideia de uma grande aliança em torno do tucano. O presidente Michel Temer retomou ontem, na entrevista que deu ao “Estadão”, um projeto político que estava adormecido desde que o PSDB resolveu sair do governo. Deixou claro na entrevista ao “Estadão” que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é o candidato preferido para a sua sucessão.
Essa avaliação deve necessariamente entrar nas análises tanto do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quanto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Os dois acham que podem ser o candidato da base aliada, e entendem que Alckmin não pode, porque o PSDB saiu do governo.
Pode ser até que Temer tenha que dar algumas explicações, e até diga que foi mal entendido, mas a ideia com que está trabalhando é uma grande aliança do PMDB com o DEM, o PSDB e os demais partidos da base. Temer não falou sem querer, nem foi mal interpretado, poderia ter deixado a questão em modo de espera, mas pelo jeito tem pressa. Embora Alckmin não apareça bem nas pesquisas, é o que tem a maior estrutura partidária e de televisão.
Ao deixar claro que o candidato mais viável é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Temer passou por cima dos dissabores que teve com os tucanos e, pragmaticamente, sinalizou que seu grupo político, por mera questão de sobrevivência, deveria focar nos pontos em que é mais forte: a manutenção da base aliada com o apoio da melhoria econômica, para tentar aprovar a reforma da Previdência ainda em fevereiro.
Para tanto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, devem deixar de lado suas disputas paralelas para se concentrarem na tentativa de aprovar a reforma da Previdência. O governador Alckmin deu mais uma demonstração de que apoia fortemente as reformas ao discordar de um de seus conselheiros econômicos, Roberto Giannetti da Fonseca, que sugeriu que a reforma da Previdência fosse deixada para o próximo presidente.
A decisão ontem da Standard & Poor’s de rebaixar a classificação de risco do Brasil foi uma derrota de Meirelles, e indica que, mesmo com os números positivos dos últimos meses, a perspectiva futura do país não é nada boa.
Certamente Meirelles terá mais dificuldades para deixar o governo em abril, em meio à incerteza que essa decisão incutirá nos investidores internacionais. O ministro da Fazenda vinha recebendo apoio de setores internacionais ao seu desejo de se candidatar à Presidência da República, e contava com o adiamento da decisão sobre o risco do país como demonstração de confiança em seu trabalho.
Já o presidente da Câmara tem a seu favor o fato de que não precisa se desincompatibilizar para disputar a Presidência, e tem até início de julho para tomar essa decisão, quando os partidos devem escolher seus candidatos em convenção. Até lá, o quadro estará mais claro, e se confirmadas as expectativas do Palácio do Planalto e do PSDB, o governador Geraldo Alckmin terá subido nas pesquisas eleitorais.
Neste caso, Maia poderá retomar seu projeto original, que é o de se reeleger deputado federal e voltar a presidir a Câmara na legislatura que começa em 2019. Se, ao contrário, a candidatura tucana não for adiante, por falta de apoio ou mesmo devido a alguma decisão sobre as acusações que enfrenta no âmbito da Operação Lava-Jato, Rodrigo Maia estará pronto para assumir a candidatura, com o apoio da base aliada.
É claro que tudo dependerá de como estará o país, e da situação dos dois atuais líderes das pesquisas eleitorais. A de Lula é mais complexa, pois, se for condenado em segunda instância, estará automaticamente impedido de concorrer devido à Lei da Ficha Limpa. Mesmo que tenha uma série de recursos para tentar reverter a decisão do TRF-4, sua candidatura será sempre uma aventura sem um fim previsível.
As alianças políticas têm que estar fechadas até 15 de agosto, prazo final estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para os partidos políticos e coligações registrarem seus candidatos.
Já Bolsonaro tem um esquema partidário frágil e por isso terá pouco tempo de televisão na propaganda oficial. Ele terá que compensar essa deficiência com a atuação nas redes sociais, e comemorou ontem ter completado 5 milhões de seguidores no Facebook. Ele já está recebendo apoios esparsos de deputados de diversos partidos, que pretendem fazer alianças informais com Bolsonaro pelos diversos estados.
É tanto possível que essas traições regionais deem a ele um esquema de apoio que hoje não tem, quanto que, diante da força das máquinas partidárias, o voo solo de Bolsonaro acabe sendo neutralizado.
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