A reação dos investimentos no segundo semestre do ano passado foi um sopro de otimismo nas previsões para a economia brasileira. Medida pela formação bruta de capital fixo (FBCF), que compreende construção civil, máquinas, equipamentos, inovação e outros ativos fixos, a taxa de investimentos teve aumento modesto, é verdade, de apenas 1,6% no terceiro trimestre sobre o segundo. Mas foi a primeira alta depois de 15 trimestres consecutivos de baixa; e aposta-se que pode ser o ponto de virada, que vai garantir o crescimento sustentável.
Os investimentos começaram a perder força no terceiro trimestre de 2013, antecipando a retração econômica, e acabaram sofrendo um baque maior. Nesses quase quatro anos, a retração acumulada foi de 30%, enquanto o PIB teve recuo calculado em 8%. Somente em 2015, a queda da taxa de investimentos, foi de 13,9%; em 2016, de 10,2%; e a acumulada nos primeiros três trimestres do ano passado, de 3,6%.
Os crescentes déficits fiscais são uma das principais causas da diminuição dos investimentos porque afetam em cheio a capacidade do governo de investir. Os recursos públicos são cada vez mais absorvidos pelas despesas correntes, especialmente com o pagamento de benefícios previdenciários e folha salarial, limitando a capacidade de investimento. O adiamento da reforma da Previdência prolonga a situação, como atestam os últimos Orçamentos com investimentos cada vez mais reduzidos. Houve também reflexo das investigações de corrupção, que atingiram em cheio os projetos de infraestrutura. O clima de insegurança acaba repercutindo também na retração dos investimentos privados.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) a taxa de investimento está em 16,1%, o pior nível para um terceiro trimestre desde 1996, início da série história do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde 2014, a taxa de investimento caiu abaixo do patamar de 20% do PIB, fechando 2015 em 18,1%; e 2016 menor ainda, em 16,4%.
A expectativa é que os investimentos continuem crescendo neste ano, em um ritmo lento. A reação deve ocorrer primeiro no segmento de máquinas, com as empresas atualizando ou trocando equipamentos. O desempenho fraco da construção revela que não há um movimento de ampliação da capacidade produtiva, até porque há muita capacidade ociosa nas empresas. Há ainda previsão de aumento dos investimentos em infraestrutura, nas áreas de energia elétrica, telecomunicações, saneamento e transportes.
Mas não se espera comportamento excepcional dos investimentos a curto prazo. A Fundação Getulio Vargas estimava um aumento inferior a 4% neste ano. A construção civil, que tem o maior peso na fórmula, de 53%, ainda está fraca, influenciada pelas incertezas político-eleitorais e seguindo o ritmo da evolução dos investimentos em infraestrutura. A Petrobras, uma das maiores empresas investidores do país, está agora retomando seus projetos, depois de anos fazendo a lição de casa interna para aprimorar os mecanismos de governança corporativa e transparência, além de ajustar as contas.
O BNDES trabalha com a expectativa de crescimento de 6%, baseado na demanda por linhas de crédito em seus balcões, especialmente da Finame, que financia máquinas e equipamentos (Valor 9/1).
A baixa poupança no Brasil é uma restrição à expansão dos investimentos. Estima-se que são necessárias taxas de investimento e de poupança ao redor de 25% do PIB para que a economia tenha crescimento sustentável superior a 3% ao ano. Num primeiro momento, essa taxa modesta não deverá ser um obstáculo à recuperação cíclica em curso, impulsionada principalmente pela queda dos juros, num ambiente de elevada ociosidade, inflação sob controle e retomada incipiente do mercado de trabalho e do crédito. Mas se tornará um desafio importante quando a ociosidade na economia se esgotar e o investimento avançar mais. Isso terá efeitos sobre as contas externas, com aumento mais forte do déficit em conta corrente, hoje próximo de zero. E a perspectiva de que o déficit fiscal continuará elevado por algum tempo não contribui para reverter o quadro.
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