- O Estado de S.Paulo
PT entrou em clima de “movimento estudantil”, estimulado por lideranças
O Brasil caminha para uma campanha presidencial sem paralelo no período da redemocratização. Os analistas têm grande dificuldade de ter uma visão da floresta, e centram suas interpretações nas árvores individuais.
A filiação de Joaquim Barbosa ao PSB, por exemplo, não foi o evento de mostrar a cara e as propostas ao eleitorado como seria de se esperar num candidato que encarna a imagem da moralidade.
É verdade que a prisão de Lula sugou toda a atenção nacional, mas, como comenta Ricardo Ribeiro, analista político da consultoria MCM, “nota-se alguma dificuldade no Barbosa de virar político, fazer campanha – ele se filiou num evento escondido, não divulgado”.
Outro fato que chama a atenção de Ribeiro é a continuidade da dispersão do campo da centro-direita. O número de pré-candidatos, incluindo os nanicos, que disputam esse quinhão eleitoral chega a ser ridículo: além de Geraldo Alckmin, Temer, Meirelles, Paulo Rabello de Castro, Rodrigo Maia, João Amoedo, Flávio Rocha, Álvaro Dias e até se andou falando em Guilherme Afif Domingos.
A dispersão na esquerda não é tão acentuada, mas também é grande. Com a saída de Lula do páreo eleitoral, em princípio competirão por esse campo Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila e algum candidato do PT – recentemente os mais comentados foram Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, e Jaques Vagner, ex-governador da Bahia, mas que se chamuscou em escândalo há pouco tempo.
Ribeiro vê alguma chance de composição entre Ciro e o eventual candidato do PT, embora incerta. Seu colega Rafael Cortez, analista da consultoria Tendências, também não descarta totalmente essa hipótese, que classifica como “a estratégia mais exitosa para a esquerda”.
Mas é conhecida a resistência do PT em abrir mão do protagonismo no campo de esquerda, e Ciro não é exatamente um aliado com o qual seja muito fácil de se lidar. Sua recente declaração de que não quer ser “puxadinho do PT” é uma mostra do seu ânimo belicoso.
Por outro lado, Alckmin não decola, nem qualquer outro candidato da miríade de pretendentes ao espaço eleitoral da centro-direita.
O governador de São Paulo está com dificuldade de formar palanques eleitorais e o conflito entre João Doria e Márcio França no seu Estado não ajuda nem um pouco.
Segundo Cortez, “as condições para a vitória da centro-direita não se apresentaram ainda, há impeditivos de curto prazo e uma estratégia de médio prazo não foi construída”.
Para um terceiro analista político, que trabalha numa empresa do ramo financeiro, há ainda a questão da “narrativa” que o PT vai escolher nessas eleições. Se se mantiver por muito tempo o discurso de que a eleição é uma fraude, isto será prejudicial para a construção de uma candidatura alternativa. Ele acha que o PT entrou num clima de “movimento estudantil”, o que está sendo até certo ponto estimulado pelas lideranças.
E há finalmente o fantasma de Bolsonaro, correndo por fora, com cerca de 10% de intenção de votos não estimulada, e sem dúvida com potencial para chegar ao segundo turno. Já Marina Silva parece uma lembrança cada vez mais pálida do que já significou um dia, embora não se possa descartar que se torne competitiva. Ela e Bolsonaro sofrem da falta de tempo de TV eleitoral, mas ele é muito mais articulado e poderoso nas redes sociais.
Como pano de fundo da campanha eleitoral, como nota Ribeiro, há um clima nacional extremamente acirrado para este ponto do calendário: os ataques à caravana de Lula no Sul do País, a prisão do ex-presidente e o assassinato da vereadora Marielle Franco esquentaram os ânimos antes mesmo de a campanha propriamente dita começar.
Para empresas e participantes do mercado financeiro, que gostariam de ver sinais de que o ajuste econômico vai continuar em 2019, por enquanto não há nada de concreto a que se agarrar.
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