- O Globo
A oscilação de indicadores tem sido a rotina dessa retomada da economia. Há dias de números positivos, outros de negativos. O país está no segundo ano de recuperação, e os índices continuam mostrando idas e vindas. A queda do comércio em fevereiro foi de 0,2%, e a expectativa era de alta próxima a 0,6%. Surpresas para cima e, principalmente, para baixo colocam em xeque as previsões de crescimento do ano.
A recessão iniciada em 2014 durou 11 trimestres e no ano passado o PIB ficou positivo, apesar de ser apenas 1%. A previsão para este ano está sendo revista para baixo pelos economistas. Os meses passam e a esperada recuperação não se consolida. As vendas de varejo tiveram alta de 0,8% em janeiro, mas em fevereiro voltaram a cair quando a mediana das previsões apontava para um número positivo de 0,6% no mês. Em dezembro, o setor havia encolhido 0,6%, depois de subir em novembro, com a Black Friday.
Na pesquisa divulgada ontem, quatro das oito atividades registraram quedas na comparação com janeiro. A retração veio especialmente do consumo mais básico; a maior influência negativa foi do segmento de supermercados. As vendas nesse tipo de comércio, que tem o peso mais relevante no cálculo do índice, caíram 0,6%. Na comparação com o mesmo mês de 2017, o momento do consumo fica mais evidente. Houve alta, a décima primeira seguida, de 1,3%, mas o dado é bem menor que os 3,1% de janeiro e dos 4% de dezembro. "A tendência não é de recuperação robusta", escreveu José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Na pesquisa ampliada, que considera o comércio de material de construção e o segmento automobilístico, o recuo entre janeiro e fevereiro foi de 0,1%.
A decepção de fevereiro no comércio não foi a primeira desse ciclo. O padrão de altos e baixos também se repete em outros setores. A indústria cresce mais forte porque foi a que mais caiu e por três anos consecutivos, mas também neste setor há volatilidade dos indicadores. Em fevereiro, a produção industrial avançou 0,2%, e o esperado era uma alta de 0,6%. A retomada derrapa. Em janeiro, as fábricas fecharam no vermelho, produziram 2,2% a menos que em dezembro, outro dado pior que o estimado.
Ainda ontem, a CNI, a confederação da indústria, divulgou a projeção de alta de 3% no PIB industrial do ano. É um desempenho modesto que nem de longe elimina a queda recente. A produção em fevereiro estava 15% abaixo do pico registrado em 2011.
Nos números dos serviços, a gangorra também aparece. Desde o terceiro trimestre de 2017 os dados vêm decepcionando. Mais recentemente, o volume desapontou as previsões em janeiro, quando caiu 1,9%; antes disso, havia subido 1,5% em dezembro. O dado de fevereiro sai hoje. A previsão do Bradesco é de alta de 0,3%.
Os especialistas esperam o resultado desta sexta-feira na área de serviços para soltarem suas revisões para o PIB do ano. Mas os cálculos estão sendo refeitos. As estimativas, que se aproximavam dos 3%, caem há nove semanas no Relatório Focus do Banco Central e estão mais perto dos 2,8%. Além do desempenho mais modesto dos três segmentos, a Agropecuária terá um peso negativo no ano. A safra é a segunda melhor da história e isso está se refletindo nos preços de alimentos, mas como a estatística é a comparação da média de um ano contra a média do ano anterior, nos cálculos do PIB ela terá efeito negativo.
Vários fatores explicam essa saída hesitante da recessão. O desemprego permanece muito alto, com 13,1 milhões de desempregados, e isso segura o consumo. As incertezas políticas postergam os investimentos privados. A crise fiscal reduz investimentos públicos. Esse quadro afeta diretamente as decisões de consumo e investimentos. A ideia de que a economia poderia se descolar da política nunca fez sentido. Os indicadores melhoraram porque foram tomadas decisões de política econômica na direção certa que reduziram a inflação e os juros e elevaram um pouco a confiança. Mas a cautela dos investidores e dos consumidores permanece num contexto em que se sabe muito pouco sobre o destino econômico do país.
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