DEM, PSL e Podemos são maiores beneficiários; PT e MDB tiveram mais perdas
Daniel Carvalho, Ranier Bragon e Bernardo Caram | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Mais de 80 deputados federais mudaram de partido na atual janela, que permitiu a movimentação sem risco de os congressistas perderem o mandato por infidelidade.
Dez deles bateram recorde e estão de casa nova pela quarta ou até quinta vez desde 2015, quando iniciaram o atual mandato.
O campeão é Cícero Almeida (AL), —elegeu-se pelo PRTB, migrou para o PSD, foi depois para MDB, Podemos e, agora, assinou a ficha de filiação do PHS.
A Folha não conseguiu falar com o deputado.
"Eu sou campeão, sou um péssimo exemplo nisso", disse, aos risos, o deputado Sergio Zveiter (DEM-RJ), que não é campeão, mas chegou perto. Ele passou por quatro partidos neste mandato (PSD, MDB, Podemos e DEM).
O deputado justifica que migrou de sigla por questões locais e também por conta de suas convicções. No ano passado, por exemplo, saiu do MDB antes de sofrer punição por ter apresentado relatório favorável à aceitação da denúncia contra o presidente Michel Temer.
"Infelizmente, por tudo que está acontecendo, a maioria dos políticos é muito mal vista. Acredito que [as trocas de partido] possam pesar sim desfavoravelmente. Na análise do todo, tem um peso, mas não sei se numa escala tão elevada", disse.
Outro que circulou por quatro partidos nos últimos quatro anos é Danilo Forte (CE). Menos de quatro meses depois de se filiar ao DEM, resolveu deixar o partido para ingressar no PSDB, alegando questões locais.
Durante os últimos quatro anos, Forte já passou por MDB, PSB, rompeu com o partido e abrigou-se no DEM para agora virar tucano.
"Eu mantive uma coerência. Não corri para o poder. No Ceará, o DEM está dividido e divisão não ajuda. Gosto de jogar na coerência e com time unido no mesmo propósito", justificou Forte.
Ainda haverá alterações no quadro. O prazo terminou na sexta (6), mas os partidos só são obrigados a informar os novos filiados à Justiça Eleitoral no final desta semana. Muitos já fizeram acertos de gaveta, que só vão se tornar públicos nos próximos dias.
BALANÇO
No balanço até agora destaca-se o crescimento do DEM do presidente da Câmara e pré-candidato à Presidência da República, Rodrigo Maia (RJ). Tendo eleito 21 deputados, o partido chegou à abertura da janela do troca-troca, no início de março, com 33 cadeiras. Até esta sexta, já somava 40 --o dobro do que conseguiu eleger.
Outro destaque é o PSL, que elegeu apenas um deputado em 2014. Com a entrada do presidenciável Jair Bolsonaro (RJ), o partido decolou para uma bancada de 10 deputados federais.
O Podemos, do senador Álvaro Dias (PR), também pré-candidato ao Planalto, quase que quintuplicou sua bancada desde a eleição —passou de 4 para 18 deputados.
Em média os partidos do chamado "centrão", como PP e PR, ganharam cadeiras.
O saldo para as grandes siglas foi negativo. O MDB de Michel Temer elegeu 65 deputados, mas hoje tem apenas 51. O PT da ex-presidente Dilma Rousseff elegeu 68 e caiu para 57.
Entre os principais partidos que têm candidato à Presidência, Marina Silva (Rede), vive o pior cenário.
Apesar de estar na parte de cima das pesquisas eleitorais, seu partido tem apenas 2 deputados. Ou seja, precisará ser convidada para participar de debates eleitorais, já que a lei exige a presença apenas daqueles cujas legendas tenham ao menos cinco congressistas.
Devido a uma lei aprovada em 2015, a janela do troca-troca é aberta por 30 dias a cada ano eleitoral.
Bem longe de questões ideológicas ou programáticas, o que move as migrações é, principalmente, melhores condições para que os deputados consigam a reeleição —dinheiro público para campanhas e controle dos diretórios regionais das legendas.
Além de reforçar suas bancadas na Câmara, os partidos que elegerem bancadas mais robustas terão uma maior fatia de verbas públicas e do tempo de propaganda eleitoral na TV a partir de 2019.
A relação de forças entre governo e oposição na Câmara não se altera significativamente, já que praticamente todas as migrações registradas não guardam relação com o apoio ou o distanciamento em relação ao Planalto.
Temer continua contando com uma larga margem de apoio na teoria, mas na prática sua sustentação é bem frágil, já que, quanto mais as eleições se aproximam, mais integrantes de partidos governistas buscam se distanciar do desgaste da gestão emedebista.
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