Estratégias incluem programas com ênfase na área social e busca por votos do ex-presidente no Nordeste
A seis meses das eleições, pré-candidatos à Presidência se articulam para conquistar votos de Luiz Inácio Lula da Silva, preso anteontem sem ter indicado um herdeiro no PT. Ênfase na área social e busca pelo espólio do ex-presidente no Nordeste fazem parte da estratégia de pré-candidatos mais identificados com o centro e a esquerda. Documento da Rede, partido de Marina Silva, propõe vincular programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, a políticas de formação profissional e trabalho. Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira afirmou que a candidatura de Joaquim Barbosa vai disputar o voto progressista, tentando herdar votos de Lula, caso ele não possa mesmo concorrer a Presidência. No PSDB, o tom de Geraldo Alckmin tem sido moderado ao falar sobre a prisão do ex-presidente. A estratégica é tentar equilibrar o antipetismo, ingrediente indispensável para o eleitorado tradicional tucano, com ideias e propostas de centro-esquerda que agradam ao eleitorado petista.
Presidenciáveis dão ênfase ao social por votos de Lula
Marianna Holanda, Pedro Venceslau, Adriana Fernandes, Ricardo Galhardo, Cecília do Lago e Leonencio Nossa | O Estado de S. Paulo.
A seis meses das eleições, os pré-candidatos à Presidência ensaiam como arregimentar os votos de Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato. Líder nas pesquisas, Lula foi preso anteontem sem indicar um herdeiro no PT, o que deixa em aberto a disputa pelo ativo valioso do ex-presidente – que deverá ter sua candidatura vetada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na estratégia dos pré-candidatos mais identificados com o centro e a esquerda estão a ênfase na área social e a busca pelo espólio petista no Nordeste.
Mesmo com a prisão de seu maior líder, o PT vai insistir no discurso sobre a manutenção da candidatura do ex-presidente até o fim. O que as pesquisas indicam, porém, é que nem todos os votos serão transferidos para a alternativa eleitoral do partido – o nome mais cotado no momento é o do ex-prefeito Fernando Haddad.
Pesquisa divulgada em janeiro pelo Datafolha mostrou que, a depender da relação de précandidatos, Marina Silva, da Rede, e o pedetista Ciro Gomes aparecem como os maiores “herdeiros” de Lula. No melhor cenário, o ex-presidente lidera as intenções de voto com até 37 pontos porcentuais.
Os presidenciáveis da Rede e do PDT se mantiveram distantes do petista no processo que culminou com sua prisão. Após Lula ser levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Marina manteve o tom das recentes declarações públicas quando questionada sobre o petista – de quem foi ministra do Meio Ambiente. Ela defendeu que a “Justiça é para todos”.
Ao mesmo tempo em que procura se manter distante do PT – partido que deixou em 2009 –, a presidenciável da Rede, porém, prepara um programa de governo que vai enfatizar a expansão e consolidação de programas sociais. “Aqueles que estão decepcionados, que em função de erros, não poderão concretizar a sua intenção de voto precisam ser igualmente respeitados. Mas eles votarão de acordo com as suas consciências, nos projetos que eles identificarem sendo melhor para combater a pobreza”, disse ao Estado. Para a exministra, o voto não “está dentro de uma cesta de um ou de outro possível candidato”. “O voto é livre.”
No último dia de seu congresso, realizado em Brasília, a Rede aprovou um documento que propõe vincular programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, a políticas de formação profissional e a trabalho. “O Plano Real é uma conquista do povo brasileiro, os programas de transferência de renda são conquistas do povo brasileiro. Temos compromissos de transformá-los em conquistas da sociedade”, disse Marina.
Nordeste. Entre os tradicionais aliados do PT, o PDT se descolou da estratégia adotada por PSOL e PCdoB, que se alinharam aos petistas na defesa de Lula. Ciro Gomes deu declarações de apoio ao ex-presidente, mas passou os últimos dias nos Estados Unidos, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB) estavam no palanque e na “trincheira” do petista em São Bernardo do Campo.
“Nosso caminho é independente, e essa é a grande queixa do PT. Fazemos a defesa do Lula, mas paramos aí. A candidatura do Ciro vai se consolidar, principalmente no Nordeste. O você acha que eleitor nordestino vai votar no Haddad? É pouco provável”, disse ao Estado o presidente do PDT, Carlos Lupi.
Ontem, Boulos, que busca atrair votos do eleitorado mais à esquerda identificado com Lula, criticou a postura de Ciro. “Coloco ele no campo progressista e democrático, mas acho que ele errou em não estar nesse momento no Sindicato dos Metalúrgicos onde era uma trincheira pela resistência. Ali não era um ato da candidatura do Lula, o que está em jogo não é apenas o Lula e o PT. Eu não sou do PT, tenho diferenças com o projeto da candidatura do PT, por isso sou pré-candidato à Presidência pelo PSOL”, afirmou ao Estado. “Nós queremos discutir um projeto de Brasil, mas ao mesmo tempo tem uma unidade ampla pela democracia. Então nós seguiremos defendendo o direito do Lula ser candidato.”
‘Progressista’. Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB, já vincula eventual candidatura do recém-filiado Joaquim Barbosa ao que chamou de “voto progressista”. Segundo Siqueira, até mesmo o ex-ministro José Dirceu fez recentes elogios à possível candidatura do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.
“Ele foi diretamente atingido pelo mensalão (processo levou não apenas Dirceu, mas outros petistas à prisão). Mas ele sabe quem foi Joaquim Barbosa, de maneira que pode ou não herdar os votos petistas. Só saberemos com o tempo. Mas com a indisposição que há do eleitorado com a classe política tradicional acho que ele tem um espaço grande, com potencial bastante alto de ter uma boa votação.”
O esforço para fisgar os votos lulistas já é percebido na movimentação dos pré-candidatos. A estratégica escolhida até aqui pelo tucano Geraldo Alckmin é tentar equilibrar o antipetismo com ideias e propostas de centro-esquerda que agradam ao eleitorado petista. Após deixar o Bandeirantes, Alckmin vai incluir em seu discurso a defesa do fortalecimento de uma “rede de proteção social”. Isso inclui um cardápio de propostas que vão de mudanças na remuneração do FGTS para garantir ganhos acima da inflação à reformulação e ampliação do seguro desemprego.
Já Jair Bolsonaro (PSL-RJ), o pré-candidato que faz a principal polarização com Lula na pré-campanha eleitoral, vai insistir no discurso conservador. A preocupação maior do deputado, vice-líder nas pesquisas, é impedir o avanço de outros presidenciáveis em temas como segurança pública e defesa da propriedade privada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário