Alckmin faz movimentos para disputar o eleitorado conservador de Bolsonaro
Formalizado como postulante do PSDB à Presidência, Geraldo Alckminmovimentou suas peças no tabuleiro eleitoral. Obteve acordo com o viveiro de partidos apelidado de centrão, ou blocão, e definiu, uma semana após a recusa do empresário Josué Alencar (PR), um nome para vice em sua chapa —a senadora Ana Amélia, do PP gaúcho.
Os lances do ex-governador de São Paulo vão na direção de setores mais à direita do espectro político, faixa na qual se mostra à vontade.
Ao fazê-lo, Alckmin dá um passo importante na busca da imagem de oponente mais sólido da esquerda e do PT, ao mesmo tempo em que procura retirar de Jair Bolsonaro (PSL), com quem terá de disputar apoiadores, a primazia no terreno do conservadorismo.
Como se sabe, o deputado e militar reformado, que se notabiliza por declarações extremadas, não raro de teor autoritário, tem aparecido até aqui nas pesquisas de intenção de voto como o representante mais forte do antipetismo.
O acordo com Ana Amélia, que em princípio dará rosto à aliança durante a campanha, robustece essa estratégia. A senadora, que atrai apoio entusiasmado de grupos conservadores, como o MBL (Movimento Brasil Livre), não deixa dúvidas sobre suas inclinações ideológicas, sua aversão às teses da esquerda e seus laços com setores da elite do meio rural.
É inegável que o tucano, com tais entendimentos (que lhe permitem, ademais, ampliar o tempo de exposição na TV), demonstra capacidade de articulação e coerência política. Registre-se que o PT governou com o apoio fisiológico de boa parte do centrão —com o qual o pedetista Ciro Gomes também chegou a negociar.
O aspecto problemático das alianças entabuladas diz respeito ao estridente passivo ético e moral dos envolvidos. O PP da senadora Ana Amélia, por exemplo, é a agremiação mais atingida pela Lava Jato, situação que pode transformar em quimera, aos olhos do eleitor, o discurso anticorrupção da chapa.
O próprio PSDB e, em particular, o governo paulista também têm quadros relevantes investigados e processados por corrupção —e ainda muitas explicações a prestar.
Basta citar a Dersa, a empresa estatal de obras rodoviárias do estado de São Paulo, que está sob holofotes por suspeitas de superfaturamento e irregularidades na construção do Rodoanel.
Com mais tempo de propaganda televisiva, Geraldo Alckmin precisará de muita empatia e capacidade de convencimento para despertar a confiança da massa de eleitores que tem dado expressivas e justificadas mostras de insatisfação com o statu quo político.
São qualidades que até o momento o governador paulista, em sua retórica insípida e escorregadia, não tem conseguido demonstrar.
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