Por Raymundo Costa | Valor Econômico
No fim da noite de domingo, o PCdoB fez um acordo com o PT, retirando a candidatura de Manuela D'Ávila.
BRASÍLIA - Findas as convenções partidárias, um registro é inevitável: a eleição na qual mais se falou de renovação, na pré-campanha, chega à reta final como uma reedição das últimas disputas presidenciais. A novidade ficou por conta dos candidatos a vice: as mulheres ganharam destaque no topo das chapas, a ligação com o agronegócio foi condição para a maioria das escolhas e caiu - de uma vez por todas -o dogma da política segundo o qual candidatos ao Palácio do Planalto do Sul ou Sudeste deveriam ter como candidato a vice-presidente um nome da região Nordeste.
A pré-campanha chegou a contar com 25 postulantes ao cargo. Os partidos encerraram a fase das convenções com 13 candidatos ao Palácio do Planalto - o maior número desde 1989, que teve 21 válidos. A conta considera que o PT terá um candidato, mesmo quando a inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva for oficializada. O balanço final das convenções indica que o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, é quem dá a largada mais forte em termos de recursos financeiros, alianças partidárias e tempo de rádio e televisão. O candidato mais bem posicionado nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), teve dificuldade para fazer alianças e entra na corrida com muita intenção de voto e poucos recursos e tempo de TV.
Em termos de nomes novos na política ainda pode ocorrer alguma surpresa vinda do PT, visto que o nome indicado, Lula, tem 99% de chances de ser impugnado por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e instâncias superiores a que recorrer. Um nome como Fernando Haddad interromperia o ciclo Lula e poderia ser considerado "novo", apesar dele já ter governado a cidade de São Paulo. Seria algo como se João Doria fosse o candidato do PSDB no lugar de Geraldo Alckmin, como chegou a ser cogitado pelos tucanos.
A rejeição do eleitorado feminino ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, é um dos denominadores comuns na corrida em busca de parte das mulheres, preferencialmente do Sul do país: o eleitorado feminino é amplamente majoritário no país, representa 53% do total de votos, e não tem sido nada compreensivo com o discurso machista de Bolsonaro, segundo as pesquisas eleitorais. As mulheres também devem ficar com 30% dos recursos do fundo eleitoral para a campanha, mas há resistência interna na maioria dos partidos. O PT rachou, por exemplo. Até agora só Alckmin determinou a distribuição prevista em lei no PSDB.
No que diz respeito ao Nordeste, a decisão dos partidos chega a ser surpreendente. A região concentra o segundo maior contingente de eleitores do país, com 26,97% dos votos, mas é vista como um latifúndio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que espantou da área pelo menos o presidenciável Geraldo Alckmin, que passou a dar prioridade para a recuperação dos votos que o PSDB perdeu no Sul e Centro-Oeste.
Em termos de eleitorado, o Nordeste perde apenas para o Sudeste, que detém 43,28% dos votos. Pelo menos desde 2006 os votos da região foram amplamente majoritários ao PT, cabendo ao PSDB a hegemonia nas regiões Sul e Centro-Oeste.
Enquanto a influência de Lula se mantém alta no Nordeste, as pesquisas indicam que o eleitor do PSDB no Sul e Centro-Oeste migraram para Bolsonaro e Álvaro Dias, o candidato do Podemos. Esse foi o motivo de o partido ir à caça de um candidato a vice da região Sul. A prioridade era o paranaense Álvaro Dias, que rouba votos de Alckmin nos três Estados da região. Dias, no entanto, preferiu apostar suas fichas numa candidatura própria (e escolheu para vice um nome do Sudeste, o economista carioca Paulo Rabelo de Castro).
A escolhida para a vice de Geraldo Alckmin, a senadora gaúcha Ana Amélia (PP), era o nome seguinte na lista. O primeiro nome nordestino na relação tucana é nordestino de nascimento, mas sempre fez política em São Paulo: Aldo Rebelo (SD). O pernambucano Mendonça Filho aparecia na 6ª colocação.
A senadora Ana Amélia atende aos pressupostos básicos impostos pelo PSDB: é mulher, tem trânsito fácil no agronegócio e um discurso capaz de competir com o de Jair Bolsonaro, num tom mais civilizado, e pode tirar eleitores de Álvaro Dias (Podemos), um dos maiores responsáveis pela sangria de votos dos tucanos na região Sul.
Ciro Gomes (PDT) fez o trânsito inverso: candidato do PT, foi buscar no Centro-Oeste uma mulher também ligada ao agronegócio e um discurso mais parecido com o de Bolsonaro: a senadora Kátia Abreu, ex-ministra da Agricultura da presidente Dilma Rousseff e ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Abreu foi candidata à eleição tardia de Tocantins, em junho, e nem sequer passou de turno.
Até o fim da tarde de ontem uma outra gaúcha poderia se juntar ao grupo, Manuela D'Àvila, candidata do PCdo-B a presidente. O partido sempre girou na órbita do PT, mas nas últimas horas insistia em dizer que preferia manter Manuela. Diante do histórico da relação, havia sérias controvérsias.
O mapa das últimas eleições justifica a teimosia de Lula em se manter candidato até a impugnação da Justiça Eleitoral: ele conta com seu poder de transferência na região para enviar um "poste" para o segundo turno. Um feito, diante das dificuldades que o PT vai enfrentar nas eleições, com seu maior líder preso numa cela da Polícia Federal.
Nordestino, embora fizesse campanha em São Paulo, Lula sempre teve vices do Sul e do Sudeste, como José Paulo Bisol (1998), Aloizio Mercadante (1994), Leonel Brizola (1998) e o mineiro José Alencar como companheiro das chapas de 2002 e 2006. Dilma Rousseff, em duas campanhas, foi com o paulista Michel Temer.
Os tucanos foram menos dogmáticos: o pernambucano Marco Maciel foi o vice de Fernando Henrique Cardoso nas campanhas vencedoras de 1994 e 1998, José Serra preferiu nomes do Sudeste (a capixaba Rita Camata e o carioca Índio da Costa) nas campanhas derrotadas a presidente de 2002 e 2010. Em 2006 Alckmin escolheu o pernambucano José Jorge. Mas agora preferiu Amélia.
Além de Ana Amélia, o Rio Grande do Sul entra com mais um candidato a vice para as eleições de 2018: o ex-governador do Estado Germano Rigotto (2002-2006), emedebista histórico. Rigotto integra a ilustre relação dos governadores do Rio Grande, todos desde o estabelecimento da reeleição, que não conseguiram se manter no Palácio do Piratini depois de quatro anos de mandato.Perdeu para uma mulher, Yeda Crusius, hoje presidente do PSDB Mulher. Ligado ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), é apontado como escolha direta do candidato do MDB, Henrique Meirelles.
A região Sul como um todo abriga 14,55% do eleitorado do país. Rigotto é de Caxias do Sul e sua ligação com o agronegócio também foi importante para escolha, mas ele também tem ligações com a indústria. Os perfis são diferentes: Henrique Meirelles, o cabeça da chapa do MDB, é mais vinculado ao campo em Goiás e São Paulo.
O líder das pesquisas eleitorais, quando o nome de Lula não aparece nas listas, Jair Bolsonaro, sem conseguir firmar alianças foi buscar um nome na tropa: Hamilton Mourão. Gaúcho de Porto Alegre.
Entre os primeiros colocados, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), é mulher e do Norte do país, que detém apenas 7,76% do eleitorado, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas ao contrário das demais já escolhidas, é considerada inimiga pelo agronegócio. Em relação a Bolsonaro, pesquisa Datafolha mostrou que ela é capaz de bater do candidato do PSL em um segundo turno.
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