Há uma visão de futuro pelo menos em um ministério, o da Agricultura, uma exceção no governo do presidente Jair Bolsonaro. Essa visão é estimulante e compatível com a história de sucesso do agronegócio brasileiro, o setor mais competitivo da economia nacional, e com seu papel de grande fornecedor de alimentos para o mundo. Nos próximos dez anos haverá mais 10,3 milhões de hectares plantados, segundo projeção recém-publicada, e as lavouras deverão crescer principalmente em pastagens naturais e em áreas degradadas. As colheitas deverão aumentar proporcionalmente mais que a área ocupada, mantendo-se preservada a maior parte do território. O aumento da produção, de acordo com o estudo, deverá resultar basicamente de ganhos de produtividade, como tem sido normal há décadas.
A área total das lavouras deverá passar de 75,4 milhões de hectares para 85,68 milhões. A terra destinada aos grãos deverá aumentar de 62,9 milhões de hectares para 72,4 milhões, com ampliação de 15,3% em dez anos. A produção total de grãos deverá saltar de 236,7 milhões de toneladas (volume estimado da safra 2018/19) para 300 milhões, com acréscimo de 27%, segundo o trabalho Projeções do Agronegócio.
O persistente ganho de produtividade, medido neste caso pela relação entre o volume colhido e o espaço ocupado, tem permitido ampliar a produção muito mais rapidamente que a área cultivada. Tem sido muito limitado, portanto, o avanço das lavouras sobre territórios ainda inexplorados. Enquanto a área plantada aumentou 30,2%, a produção das lavouras cresceu 58% entre as safras 2007/08 e 2017/18.
Esse padrão de cultivo tem sido um importante fator de preservação ambiental – detalhe pouco explorado, no entanto, quando se expõem ao público internacional as condições da agricultura brasileira. Sendo altamente competitivo, o agronegócio brasileiro impõe desafios significativos aos produtores de outros países. Reações protecionistas são uma forma previsível de reação.
A criação de barreiras com base em argumentos ambientalistas é um perigo constante. Esse perigo aumenta quando o presidente brasileiro e alguns ministros mantêm um discurso interpretável, facilmente, como contrário às políticas de preservação ambiental.
Apesar das enormes distorções observadas no mercado internacional, afetado por barreiras protecionistas e amplos subsídios concedidos pelos governos do mundo rico, o Brasil conquistou e pode continuar conquistando grandes espaços no comércio do agronegócio.
Ainda sem avaliar os efeitos possíveis do acordo Mercosul-União Europeia, o estudo aponta produtos com probabilidade maior de ganhos na exportação. Algodão em pluma, soja em grão, milho, açúcar, leite, carnes suína, de frango e bovina aparecem na lista, ao lado de manga, uva, melão, mamão papaia e celulose. Para a maior parte desses produtos se estimam aumentos de volume superiores a 30% em dez anos.
As projeções de produção cobrem produtos vegetais e animais e o trabalho explora as possibilidades do agronegócio segundo regiões. Uma seção especial é dedicada ao Matopiba, formado por parcelas contíguas dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
A adaptação de lavouras a novas áreas, com solo e climas diferentes, tem sido uma das características mais notáveis do desenvolvimento agrícola do Brasil. Isso teria sido impossível, ou muitíssimo difícil, sem o trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de outras instituições de investigação científica e tecnológica. O papel central continua sendo o da Embrapa. A empresa conseguiu sobreviver a umas poucas e perigosas tentativas de aparelhamento e conseguirá, espera-se, resistir a interferências de ordem ideológica.
Só uma parte do avanço projetado pelo Ministério da Agricultura para os próximos dez anos dependerá do próprio agronegócio. O sucesso dependerá crucialmente da pesquisa, dos investimentos em infraestrutura e das condições de financiamento. Nada disso está garantido. No Brasil, como no mundo rico, a ação do governo continuará tendo um peso determinante.
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