Quando a economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gita Gopinath, anunciar hoje em Santiago as previsões para a economia global, em nova revisão do estudo World Economic Outlook (WEO), muito provavelmente trará más notícias. A expectativa é que o FMI volte a reduzir a taxa de crescimento esperada para este ano, em consequência do acirramento da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, dos problemas na União Europeia e da decepção com o desempenho de alguns países emergentes, inclusive o Brasil. Para agravar a situação, a principal reação das autoridades parece se limitar a recorrer ao já surrado afrouxamento monetário.
Desde o fim do ano passado, o FMI vem cortando gradualmente as previsões para a economia global e, ainda assim, está com números superiores aos de outros organismos multilaterais. Depois de ter chegado perto do pico de 4% em 2017 e ter embalado o primeiro semestre de 2018 ao ritmo de 3,8% anualizados, o crescimento mundial começou a ratear no segundo semestre, tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes, em consequência da guerra comercial, aperto financeiro e elevação do preço do petróleo. 2018 acabou fechando com expansão de 3,6%.
O FMI esperava que esse índice fosse superado agora. No entanto, já em janeiro a previsão tinha recuado para 3,5% em vista da escalada tarifária no comércio entre Estados Unidos e China, e o enfraquecimento da produção na Europa. No segundo trimestre os problemas persistiram. O Brasil começou a decepcionar; e os Estados Unidos, que vinham em ritmo diferente, também pareceram marcar passo. Mais uma vez, o FMI reduziu a previsão, que foi para 3,3%. Essa é a menor marca desde 2009, quando a economia mundial encolheu 0,1%, na esteira da crise financeira internacional. Ainda assim deverá ser novamente reduzida.
Desde o fim de junho, o Banco Mundial trabalha com a previsão de que o crescimento ficará limitado a 2,6%. O novo presidente do Banco Mundial, David Malpass, culpou principalmente a desaceleração do comércio global, mas não chegou a apontar o dedo para Washington, provavelmente porque foi escolhido por Donald Trump. O diretor do banco, Ayhan Kose, foi mais contundente, afirmando que a previsão para 2020, atualmente de crescimento de 2,7%, pode ser reduzida em um ponto percentual para 1,7%, se políticas mais protecionistas se materializarem. Geralmente o comércio internacional cresce o dobro do PIB, mas a expansão deve se limitar a 2% neste ano.
Também vão condicionar a revisão do FMI os resultados da China, que acaba de anunciar que teve no segundo trimestre o crescimento mais baixo em quase 30 anos, de 6,2% ao ano. A China não crescia tão pouco desde 1990, ano da forte repressão dos protestos na Praça da Paz Celestial, que acabou repercutindo negativamente na economia. Além da briga com os Estados Unidos, os chineses enfrentam problemas de origem doméstica, como preços alto dos ativos, especialmente moradias, e endividamento elevado tanto do setor público quanto privado (Financial Times, 15/7).
O cenário vai influenciar as reuniões que ocorrem até o fim do mês do Banco Central Europeu (BCE) e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), certamente com respingos no Copom. A pressão dos governos e dos mercados é por novos afrouxamentos monetários. O movimento parece muito provável do lado do BCE, que se reúne dia 25, apesar de estar em plena transição de comando para Christine Lagarde, que assume em outubro. Já no Fed, com encontro marcado para os dias 30 e 31 (mesma data do Copom), a discussão se concentra no percentual do corte da taxa, apesar dos recentes ruídos na comunicação de alguns membros do board. Em junho, o Fed manteve os juros estáveis na faixa de 2,25% a 2,5%, mas a tensão comercial e a inflação abaixo da meta de 2% fortaleceram o grupo que defende a redução. Além de alguns membros do Fed, o diretor gerente em exercício do FMI, David Lipton, apoia a adoção de estímulos fiscais por parte dos bancos centrais para estimular a economia global.
O problema, porém, como escreveu o articulista Martin Wolf (Financial Times, 27/6), é que os juros internacionais já estão bem baixos, o que reduz a margem de manobra por parte dos bancos centrais e o poder de impacto de novos cortes. Além disso, os desafios globais vão bem além disso e incluem endividamento elevado, protecionismo crescente, a onda de populismo e a incerteza resultante de tudo isso.
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