PSDB
não teme solução radical para buscar um novo nome: a realização de prévias
Ao
apurar as urnas, no domingo, o município de São Paulo terá o resultado de três
eleições. A primeira revelará a identidade do novo prefeito. A segunda, de
dimensão nacional, indicará os efeitos desta definição na peleja do
governador João Doria e do presidente Jair
Bolsonaro. A terceira e mais complexa deflagrará a disputa interna
no PSDB, de que pouco se fala mas, com certeza, desabrochará.
A
resistência a João Doria definirá sua proporção, no PSDB, a partir de agora.
Com o desempenho eleitoral do prefeito Bruno Covas este grupo, que contava
apenas com a presença discreta do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo
Leite, passa a ter um novo ponto de articulação.
Se conseguir levar seu eleitorado a comparecer, Covas continua favorito para vencer o segundo turno, apesar do impulso de crescimento de seu oponente em cima do contingente de indecisos. Se não, pelo resultado até aqui, passou a ser um ator importante nas definições político-eleitorais do PSDB. Não é mais o vice, de carona em um mandato tampão de prefeito. Sua votação tornou-se pessoal. A campanha lhe permitiu, também, mostrar uma gestão reconhecida, apesar da travessia de períodos dramáticos que viveram os cidadãos e ele próprio.
Desempenho
eleitoral e gestão o credenciam como força partidária. Não necessariamente em
futuro benefício próprio, devido aos problemas de saúde, mas para fortalecer a
oposição interna que não vê em Doria o destino do PSDB. Doria está desgastado.
Sabe-se, inclusive, o ponto nevrálgico de seu esgotamento, e não está na
gestão. O governo é bem avaliado, tem uma equipe melhor que a do governo
federal, fez uma reforma administrativa que Bolsonaro levará ano e meio para
começar. Como se formou, então, tão denso desgaste? Especialistas identificaram
sua origem em um fenômeno que definem como “excesso de imagem”.
Desde
o momento inicial, que ficou conhecido como a fase de traição a Geraldo
Alckmin, ao abandono precoce do mandato de prefeito, passando pelas
dificuldades para desatar a armadilha BolsoDoria, mais os palanques diários, a
voz onipresente. Acreditou na comunicação direta como um ativo e cansou o
distinto público.
A
tese se comprova. Tanto que o momento mais bem sucedido de Doria, no quesito
aceitação, se deu quando saiu de cena e deixou Bolsonaro falando sozinho, a
comemorar a suspensão da vacina anticoronavírus do Butantã. Colocou médicos e
cientistas para duelar com o provocador, levando o Presidente da República a
murchar seu ímpeto num instante, completamente sem graça. Mas foi exceção. O
PSDB sente-se preparado para articular alternativas. Eduardo Leite, considerado
um belo produto político, galvaniza estas forças. Como é pouco conhecido, foi
um opositor discreto internamente. Mas agora pode contar com São Paulo. Além de
oferecer ao partido a construção de uma candidatura a partir do zero.
Estão
todos conscientes de que uma reação como esta é de difícil operação. Bruno
Covas tem a política na sua natureza, conhece o centro do poder e sintoniza-se
melhor com Leite do que com Doria. Mas é certo que terá enormes dificuldades de
liderar o movimento de dentro para fora de São Paulo. Não só pelo
constrangimento que, em política, se dilui, mas por questões de outra natureza,
como a relação do prefeito com o governador e do partido com o Estado onde se
encontra o maior colégio eleitoral.
Reconhecer
que é difícil não significa que não vai haver. O PSDB já sente profundamente a
necessidade de buscar um novo nome. Gosta de seu dilema de sempre que considera
sua marca: não se discute se o partido terá candidato, mas quem será. E não
teme, em último caso, a solução radical para este tipo de impasse: a realização
de prévias. Que podem ser organizadas num estalar de dedos. Para o PSDB, isto é
muito.
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