Diário
do dia de ontem
O
dia em que o presidente Jair Bolsonaro disse que “está fazendo a coisa certa e
que não é fácil fazer a coisa certa “foi também o dia em que ele, em live no
Facebook, reforçou o desejo de que as torcidas voltem a frequentar os estádios.
Em suas palavras:
Temos
que voltar a viver, pessoal. Sorrir, fazer piada, brincar. Voltar (o público)
nos estádios de futebol o mais cedo possível, que seja com uma quantidade
menor, 20%, 30% da capacidade do estádio.
Foi
também o dia em que Bolsonaro aconselhou a um grupo de devotos admitido nos
jardins do Palácio da Alvorada:
Se
eu fosse um dos muitos de vocês, obrigados a ficar em casa, ver a esposa com
três, quatro filhos, e eu não ter, como chefe do lar, como levar comida para a
casa, eu me envergonharia. Sempre disse que a economia anda de mãos dadas com a
vida.
E
foi também o dia que em visita a Propriá, na divisa entre Sergipe e Alagoas,
ele discursou para uma pequena multidão:
A
Europa e alguns países aqui da América do Sul não têm vacina. Sabemos que a
procura é grande. Nós assinamos convênios, fizemos contratos desde setembro do
ano passado com vários laboratórios. As vacinas começaram a chegar. E vão
chegar, para vacinar toda a população em um curto espaço de tempo.
Nesse
dia, o Brasil registrou o terceiro maior número de novas mortes por
covid-19 em um intervalo de 24 horas. Foram 1.439 óbitos e 60.301 novos casos
da doença. No total são 221.676 óbitos até agora e 9.060.786 pessoas
contaminadas.
E
o Instituto Butantã revelou que tem 54 milhões da vacina Coronavac em estoque,
mas que o governo federal não quer dizer se irá comprá-las ou não. Há Estados e
países interessados em comprar, mas o silêncio do Ministério da Saúde é um
empecilho.
E o Lowy Institute, centro de estudos baseado em Sydney, na Austrália, apontou em relatório que o Brasil foi o país que teve a pior gestão pública durante a pandemia. Ficou na última posição entre 98 governos avaliados.
Ainda
nesse dia, recém-nomeado assessor especial do Ministério da Saúde, o
general Ridauto Fernandes afirmou que Manaus tem quase 600 pacientes de
Covid-19 na fila de atendimento e que, caso evoluam para quadros graves,
“vão morrer na rua”.
Em
reunião da comissão externa do coronavírus na Câmara dos Deputados, Fernandes enfatizou
que o gargalo está na falta de oxigênio. “Abre o leito, bota o
paciente e ele vai morrer asfixiado no leito. E aí, vai adiantar abrir o
leito?”.
O
alerta do general foi ampliado por Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da
Saúde, em entrevista à TV Cultura. Ao comentar a disseminação da nova variante
do coronavírus detectada em Manaus, Mandetta previu:
Provavelmente,
a gente vai plantar essa cepa em todos os territórios da federação e daqui a 60
dias a gente pode ter uma mega epidemia.
Pergunta que não cala: a quem os militares devem obediência?
Pandemia
é uma guerra
O
presidente da República manda a imprensa enfiar latas de leite condensado (você
sabe onde) e desce ao nível mais baixo da cadeia alimentar dos seres vivos.
Para manter o mesmo diapasão: alguém aqui imaginou ver general e coronéis
interventores do Ministério da Saúde fazendo c* doce para comprar mais vacinas
do Butantan?
Logo
as únicas que o país produz até agora no decorrer de uma pandemia que não para
de piorar. Não passa pelo terreno baldio que eles carregam em cima do
pescoço que, se demorar a comprar, a China e a Sinovac não terão mais insumos
para fornecer este ano? E que a produção é limitada e todo o mundo corre atrás?
Existe
corte marcial no Brasil, como em todos os países do mundo que têm forças
armadas, para julgar crimes de guerra e contra a humanidade? Combater a
pandemia é um tipo de guerra. Angela Merkel, chanceler da Alemanha, disse que a
pandemia é o pior evento enfrentado pela humanidade desde a Segunda Guerra.
O
povo brasileiro ainda faz parte da humanidade? Os generais e coronéis do
Ministério da Saúde não enfrentarão nenhum julgamento? Ou vamos, de novo,
anistiar geral e criar outra Comissão Nacional da Verdade para expor seus
crimes daqui a cinquenta anos em cima de uma montanha de cadáveres?
O
pretexto da luta contra o comunismo absolveu no passado torturas e mortes. E
agora? Alegar “obediência devida” a um superior hierárquico no limite da
insanidade absolverá outra vez? O Exército acredita mesmo que está
desvinculado do ministério militarizado da Saúde e comandado por um general da
ativa?
Se
o Brasil estivesse em um conflito bélico, e as vidas dos soldados corressem
grave risco, os generais refugariam mais munição e armamento? Pediriam quatro
meses para pensar a respeito? Os soldados ainda teriam uma vantagem sobre nós:
poderiam desertar e sumir no mundo. Nós não temos para onde fugir.
As Forças Armadas brasileiras juram obediência à Constituição e lealdade ao povo ou a um indivíduo que, por palavras, exemplos e ações induz à morte os que o elegeram e também os que votaram contra ele?
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