Governar não é fácil. É fazer escolhas. Na
democracia, muitas vezes a política resvala na demagogia. Mas, ou se enfrenta
os problemas ou a demagogia vai cobrar um alto preço em algum momento futuro.
Como disse Montesquieu: “O político deve sempre buscar a aprovação, porém
jamais o aplauso”. A legitimação do poder só é duradoura se os resultados
aparecem e a realidade avança. A democracia gera o famoso sistema de freios e
contrapesos como antídoto aos abusos de poder. Como afirmou o líder conservador
irlandês, Edmond Burke: “Quanto maior é o poder, tanto mais perigoso é o
abuso”.
Muita discussão houve sobre a máxima de Bismarck: “A política é a arte do possível”. Será? Ou será a arte de fazer possível o necessário? Ou até mesmo um dos lemas do maio de 68 na França: “Sejamos realistas, peçamos o impossível”? Independente disso, a política é o único instrumento capaz de mudar o mundo e a vida. Para avançar é preciso construir apoios majoritários. Assistimos, no Brasil, a dificuldade imensa de aprovação de reformas tributária e administrativa que mereçam o nome. Também, com 24 partidos representados no Congresso e uma dispersão disfuncional, onde o maior partido tem apenas pouco mais de 50 deputados. Hoje não há maioria e minoria organizadas no Congresso e a política, que avança na relação dialética entre cooperação e conflito, se caracteriza pela predominância quase absoluta do conflito, ditado pelo estilo de governar de Bolsonaro.
No último 7 de setembro pairou um clima de
golpe. Especulações, temores, ameaças dominaram a cena. O golpe não veio. O
apoio popular à uma virada de mesa alcançaria no máximo 10% da população. Não
houve sustentação das Forças Armadas ou das forças policiais. O recuo foi
rápido através de nota do Presidente, aconselhado por Michel Temer. A poeira
baixou, uma tranquilidade provisória se instalou, e é possível afirmar que não
haverá golpe.
Por outro lado, forças oposicionistas
apontam o caminho do impedimento do Presidente da República. Embora crimes de
responsabilidade tenham sido cometidos, duas outras pré-condições para um
afastamento não estão dadas: mobilização social e maioria parlamentar. Lula e o
PT não têm interesse no impeachment. Muito menos o chamado “Centrão”, que
constituí a base parlamentar do governo e se instalou no coração do poder. Um
terceiro impeachment seria traumático. Portanto, é possível vislumbrar que não
haverá impeachment.
Daqui a dez meses, a sucessão presidencial
estará nas ruas, com os candidatos escolhidos pelas convenções partidárias.
Tudo indica que teremos escaramuças, novas tensões, instabilidade permanente e
a crise permanecerá irresolvida. A solução virá do pronunciamento soberano do
cidadão brasileiro nas urnas, eletrônicas. Felizmente, a democracia será o
caminho de superação da presente crise.
*Presidente do Conselho Curador ITV –
Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
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